Opinião

Visão do Correio: Celular nas escolas precisa ser debatido

Além de estudos divulgados pela Unesco que alertam para uma "epidemia de distração" enfrentada pelos alunos, especialistas condenam o uso de quaisquer equipamentos eletrônicos até mesmo no recreio

Proibido celular escolas estudante -  (crédito: Caio Gomez)
Proibido celular escolas estudante - (crédito: Caio Gomez)

A decisão sobre a proibição de celulares nas escolas públicas e privadas no Brasil parece estar longe do fim. Pelo menos, uma decisão que sirva para todo o território nacional. Algumas unidades da Federação tomaram um caminho. Na última terça-feira, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou, por unanimidade, projeto de lei que proíbe o uso de celulares em escolas públicas e privadas no estado. Agora, o texto segue para sanção do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). No Rio de Janeiro, as escolas municipais adotaram a regra desde o início letivo deste ano, com resultados positivos apontados pelo secretário de Educação do município: aumento do foco, da concentração e da interação social entre os estudantes.

Além de estudos divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) que alertam para uma "epidemia de distração" enfrentada pelos alunos, especialistas, principalmente médicos, condenam o uso de quaisquer equipamentos eletrônicos, como celulares, relógios inteligentes, tablets e outros aparatos tecnológicos, seja dentro da sala de aula, seja nos intervalos entre as disciplinas e até durante o recreio.

De acordo com pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022, no Brasil, cerca de 80% dos alunos afirmaram que se distraem com o uso de celulares nas aulas de matemática. E a tecnologia é mais prejudicial  quando o usuário é um bebê. Tanto que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) desaconselha o uso desses aparelhos por menores de 2 anos, com possíveis danos ao desenvolvimento cerebral da criança.

Por outro lado, há quem defenda o uso do celular na escola, principalmente durante determinadas tarefas escolares, como em aulas de disciplinas em que sejam demandadas demonstrações de fórmulas, durante a elaboração de jogos ou dinâmicas, ou ainda nas aulas de artes. Os defensores dos celulares nas escolas acusam o outro lado de simplista ou de estar cerceando o conhecimento e até mesmo os momentos de lazer dos estudantes, já tão massacrados com aulas teóricas e, muitas vezes, monótonas.

Fato é que um levantamento realizado pela Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados demonstra que 86% da população brasileira é favorável a algum tipo de restrição ao uso de celular dentro das escolas, sendo que 54% são favoráveis à proibição total dos aparelhos e 32% acreditam que o uso do dispositivo deve ser permitido somente em atividades didáticas e pedagógicas, com autorização dos professores. Os que são contra qualquer tipo de proibição somam 14% e alegam que não há pesquisas maciças que batam o martelo quanto aos reais prejuízos da tecnologia no ambiente escolar.

Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei para limitar o uso dos celulares nas escolas, e o Ministério da Educação chegou a anunciar que  divulgaria uma proposta sobre o tema, mas ela ainda não foi apresentada. O texto aprovado pela Comissão de Educação da Câmara proíbe o uso para crianças de até 10 anos. A partir dessa idade, seria permitido para atividades pedagógicas, o que desperta a preocupação de famílias e especialistas. Para virar lei, o projeto precisa ser  aprovado pelos deputados e pelos senadores. Enquanto isso, novos estudos vêm sendo desenvolvidos, assim como os debates, que, necessários, crescem na mesma proporção das inquietações. 

postado em 15/11/2024 06:00
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