MARCELO ANTÔNIO NEVES — Coronel do Exército Brasileiro na reserva. Foi observador militar da Organização das Nações Unidas (ONU) para El Salvador e bacharel em ciências militares e administração de empresas
A política tem armadilhas que podem capturar eleitores inexperientes ou despreparados com facilidade, levando-os a votar em massa com base em discursos emocionais e passionais, abandonando avaliações racionais e escolhas elaboradas. Para falar de política, é essencial compreender várias facetas dessa atividade humana. Duas das mais proeminentes são o populismo e a demagogia, sendo crucial entendê-las como ferramentas para alcançar o poder.
A palavra demagogia vem do grego: demo que significa povo, população agogôs ou liderar, liderança. Na Grécia e na Roma antiga, o demagogo era encarregado de falar pela população que estava excluída das decisões políticas. O populismo, segundo o dicionário, é uma prática que busca a simpatia das classes sociais mais baixas, defendendo seus interesses, por meio de políticas paternalistas e assistencialistas.
Demagogia, por exemplo, tornou-se um rótulo que prejudica a reputação de qualquer pessoa pública. Longe de ser um elogio, busca manipular a maioria por meio de argumentos aparentemente comuns, mesclados com falácias, prática que remonta à Grécia antiga e é vista como uma distorção da realidade.
A atuação demagógica, dependendo da persuasão do agente e da penetração de suas mensagens, pode levar a posicionamentos radicais, provocando a polarização de ideias e dificultando debates e consensos, realidade muito comum na política brasileira. O político demagogo distorce informações, adota ações para legitimar um interesse ou perspectiva incompleta, levando seu eleitorado a posições desejadas, por meio de narrativas, meias verdades ou omissões, usando argumentos falaciosos. A demagogia é a raiz da polarização.
O populismo está fortemente relacionado às práticas políticas de governos, sobretudo na América Latina durante o século 20. No Brasil, o populismo clássico teve o seu auge no período de 1930 a 1964. Presidentes como Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek e João Goulart foram considerados símbolos do populismo. Essa prática evoluiu até os dias atuais e está associada a governos com grande apelo junto às camadas mais pobres da população.
Existem características peculiares que ajudam a traçar o perfil do político populista, as quais se destacam a liderança direta e não institucionalizada do líder com as massas, o nacionalismo econômico, o discurso de união das massas, a liderança baseada no clientelismo e o sistema partidário frágil.
Nesse contexto, um conceito importante a ser considerado é o da pós-verdade, que se refere à manipulação retórica, por meio da qual os fatos objetivos têm menos influência do que apelos emocionais e crenças pessoais. Essa prática não se limita apenas aos políticos, mas abrange diversos atores sociais, como institutos de pesquisa, agências de propaganda, jornalistas e até mesmo cidadãos comuns, que disseminam desinformação, denominada em tempos atuais de fake news.
Com a popularização das redes sociais e a rapidez na disseminação das informações, a demagogia e o populismo ganharam maior alcance, criando um terreno fértil para a radicalização e polarização de opiniões.
Os políticos 3P (populistas, polarizadores e usuários da pós-verdade) se valem da retórica do catastrofismo, da criminalização de opositores, das ameaças externas e da militarização da política para polarizar os debates e impor suas posições. Essas estratégias visam criar um clima extremo na sociedade, manipulando a opinião pública.
Em meio ao cenário caótico da política, é fundamental que exercemos um papel ativo na escolha de nossos representantes, optando por políticos propositivos e comprometidos com o bem-estar da sociedade. A conscientização e a participação ativa são essenciais para promovermos mudanças positivas no ambiente político.
Portanto, é crucial estarmos atentos aos discursos e práticas dos políticos, buscando candidatos que apresentem propostas reais e coerentes com as nossas necessidades. A escolha criteriosa dos líderes políticos é fundamental para garantirmos um futuro de crescimento sustentável e democrático.