A Copa do Brasil chega ao fim amanhã deixando um rastro de ligações perigosas — para dizer o mínimo — capazes de fomentar muitas desconfianças acerca da credibilidade do segundo torneio de futebol mais importante do país. Não deveria ser assim, sobretudo em tempos de CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas e do iminente lançamento da CPI das Bets no próximo dia 12. No entanto, alguns cartolas são sádicos. Gostam de apagar incêndio com querosene.
Entidade organizadora de uma competição e um clube jamais deveriam ter o mesmo patrocinador. A CBF comercializou os naming rights com a Betano. A plataforma internacional grega de apostas on-line também ocupa o espaço mais nobre da camisa do Atlético-MG, rival do Flamengo na decisão da Copa Betano do Brasil, amanhã, às 16h, na Arena MRV. Estaria errado também se fosse Copa Pixbet do Brasil — parceira do Flamengo.
Uma vez, o Banco de Brasília ficou perto de comprar da CBF os naming rights da Supercopa do Brasil. A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, discordou por se tratar, à época, do patrocinador máster do Flamengo em um jogo na casa batizada com naming rights da instituição financeira. Ela bateu o pé.
Não há ilegalidade nas parcerias nem alguma denúncia grave até que se prove o contrário, porém, é no mínimo deselegante. Alimenta, por exemplo, a imaginação fértil de uma das torcidas envolvidas na final da Copa do Brasil.
Um dos cassinos virtuais autor das denúncias do volume irregular de apostas é justamente a Betano. Os outras são o Galeta.bet e a KTO. Rubro-negros adeptos de teorias da conspiração questionam por que a Operação Spot-Fix da Polícia Federal, em parceria com o Gaeco e a o MPDFT, veio à tona um dia depois de o Flamengo derrotar o Galo por 3 x 1, e na semana do jogo para o qual Bruno Henrique está apto a enfrentar o Atlético no duelo de volta após cumprir suspensão.
Há quem lute na Câmara e no Senado pela proibição de cassinos on-line nas camisas dos clubes e nos naming rights nas competições organizadas pela CBF e as federações a ela filiadas. Seria o certo no mundo ideal, porém não se engane: o lobby contra e a favor é pesadíssimo.
O jogo de interesse também. Na vida real, o Atlético-MG é parte interessada no julgamento da liminar concedida em 4 de janeiro pelo STF ao presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. O documento o mantém no cargo há 10 meses. A votação iniciada no mês passado está parada desde que o ministro Flavio Dino pediu vista. Em 9 de outubro, o Galo apresentou sustentação favorável ao dirigente no STF antes do início da votação.
A CBF realiza no próximo dia 26, em São Paulo, o Summit CBF Academy. Um dos debatedores da plenária "Sustentabilidade Financeira e Competitividade entre os Clubes" é Rodolfo Landim, presidente do Flamengo. Não há dirigente do Atlético-MG sequer para falar sobre SAF.
Atlético e Flamengo se deram bem na batalha contra Corinthians e Vasco na polêmica marcação das datas de volta das semifinais da Copa do Brasil. Faltou transparência na decisão unilateral da CBF, mas transparência é artigo de luxo no futebol brasileiro.