José Natal*
O Brasil deixou de ser uma República de Bananas faz tempo. Mas, no mundo político, ainda há resistência sobre essa realidade, e muitos não perdem nenhuma oportunidade de tentar mostrar submissão, puxa-saquismo e subserviência ao menor aceno de alguns países que jamais se preocuparam com a nossa existência. A vitória de Trump, nos Estados Unidos, justa por sinal, atiçou velhos sonhos e despertou o adormecido senso de ridículo, alojado em uma boa parte daqueles que adoram ir a uma festa de luxo usando terno emprestado. Essa turma existe, pode acreditar.
A prova cabal de que isso acontece vem da recente entrevista que o senhor Jair Messias concedeu a Ranier Bragon e Camila Mattoso, da Folha de S. Paulo. Ali, o ex-presidente, sem medo de ser feliz, escancara, sem ficar vermelho, a sua total e absoluta capacidade de se humilhar, sem nenhuma preocupação com o que vão pensar dele. Se esborracha de amor a Trump que, sob sua ótica, também o adora. Há controvérsias, mas, por via das dúvidas, está caprichando no seu " The book is on the table" caso, de fato, consiga marcar presença na festa de posse do presidente americano.
Na entrevista, uma das poucas em que o capitão não solta marimbondos no ministro Alexandre de Moraes, o ex-presidente manifestou sua esperança de ganhar de Trump um apoio para se livrar da sua inelegibilidade. E mais: lembra até do ex-presidente Michel Temer, um possível nome para dividir com ele uma candidatura ao Palácio do Planalto. Ético e experiente, Temer se esquivou e se diz fora do cenário político.
Como dizia João Saldanha, quem mora na Vila conhece os caboclos. Resvala na ingenuidade política, ou na incompetência de uma assessoria que não entenda do assunto, que esse não é, e nem será, o melhor caminho para que o capitão adquira os seus direitos políticos. Aliás, lutar por isso é um direito dele, uma obrigação. Os meios que ele utiliza para ganhar essa causa é que estão equivocados. A preocupação de Trump com o futuro de Bolsonaro deve ser a mesma que o ex-presidente tem com a saúde de Lula e sua equipe. Ou seja, zero. Sempre com um vocabulário chulo, agressivo, e com gestos pouco recomendáveis a menores de idade. Atitudes que em nada ajudam a acelerar seus desejos de voltar ao palco iluminado.
Dentro da própria doutrina direitista, os sinais de repúdio a essas manifestações são claros, evidentes. Direita, aliás, com pouco combustível no tanque. Com vitórias episódicas, isoladas e sem lastro. O Brasil não é, e nunca será de direita. A história comprova isso. Há, sim, e isso é verdade, um contingente da esquerda esfacelado e desgastado pelo tempo, pela inércia e pela viciada dependência de Luiz Inácio Lula da Silva, até hoje o único com coragem, habilidade e soberana liderança do seu partido, e por tabela de todos os outros que o seguem.
O PT dos últimos 25 ou 30 anos respira pelo pulmão de Lula e se alimenta de migalhas e partículas de uma pobre e desorganizada comunidade, que jamais teve capacidade para formatar um novo líder. Daí, o avanço lento e o obtuso crescimento de pseudolíderes da direita radical, geminada na figura de um líder a cada temporada. Uma vez mais, basta recorrer à história, consultar os arquivos. Líder mesmo, de papel passado e juramentado, a direita não tem.
Bolsonaro tem razão, candidato mesmo, com carteira assinada e direito a viajar na janelinha, só ele mesmo. O resto é churumela, cantos de sereia. Potencial esse que ele, mais uma vez, construiu e trabalha para destruir. Se achar mais inteligente que todos é o primeiro sinal de burrice. Quem faz política com sabedoria deve seguir o manual do bom agricultor. Quem aduba mal o terreno, ou faz o plantio fora de época, perde a colheita. Depois, não adianta ficar chorando na porta da cooperativa. A estatística está contra o capitão. Até hoje, ganhou apenas uma prova. Nas outras, queimou a largada. Se fosse técnico de futebol, a essa altura estaria "prestigiado".
*Jornalista