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Tensão pela frente

No cenário internacional, a vitória de Trump torna uma solução política mais distante para o conflito no Oriente Médio. O presidente eleito também é aliado incondicional de Israel. Na Ucrânia, o republicano prometeu acabar com a guerra em breve

. -  (crédito:  Getty Images via AFP)
. - (crédito: Getty Images via AFP)

O retorno de Donald Trump à Casa Branca impõe várias reflexões. A onda vermelha que se alastrou por boa parte dos Estados Unidos e engoliu, inclusive, os chamados estados-pêndulo (que oscilam de preferência entre republicanos e democratas) tem algumas possíveis explicações. O presidente democrata Joe Biden não conseguiu alavancar a economia americana e fracassou, ao não adotar uma condenação tácita da guerra na Faixa de Gaza. Em vez disso, demonstrou apoio incondicional a Israel, seu aliado histórico, indispondo-se com eleitores muçulmanos, especialmente do estado de Michigan. Considerada uma vice apagada, Kamala Harris demorou para ser oficializada candidata, enquanto Trump seguia a todo o vapor com sua campanha eleitoral.

O voto nos Estados Unidos parece ter sido mais pragmático do que passional. A economia tem oscilado negativamente, com temores de crescimento de inflação. O americano decidiu fazer sua escolha ao comparar a situação econômica do país antes da pandemia de covid-19, no primeiro governo Trump, com a atual, durante a gestão Biden. Mas a recondução de Trump ao cargo mais poderoso do planeta tem mais explicações. Uma delas é o fracasso estratégico do Partido Democrata, que apostou todas as fichas em Biden por muito tempo. Sem grandes lideranças políticas, teve que transferir a aposta para Kamala, uma política sem muito carisma e que passou os últimos anos à sombra de Biden.

A avalanche azul e o entusiasmo em torno da candidatura da vice de Biden, com a adesão de astros como Lady Gaga, Taylor Swift, Oprah Winfrey, Jon Bon Jovi e Bruce Springsteen, não foram suficientes para vencer a promessa de uma "América grande novamente", feita por Trump. Mesmo respondendo a uma série de processos na Justiça, inclusive por colocar em xeque a democracia americana, o republicano foi o preferido do eleitorado. A incógnita é: como serão os quatro anos de um segundo mandato de Trump, empoderado pela maioria no Senado e pelo provável controle da Câmara dos Representantes? Ele flertará com decisões autoritárias?

No cenário internacional, a vitória de Trump torna uma solução política mais distante para o conflito no Oriente Médio. O presidente eleito também é aliado incondicional de Israel. Na Ucrânia, o republicano prometeu acabar com a guerra em breve. Mas terá que "combinar" com Kiev e com Moscou. É provável que o triunfo trumpista alimente a extrema-direita na Europa e no Brasil, ao receber uma injeção de ânimo depois de derrotas eleitorais. Quanto ao governo brasileiro, a relação da Casa Branca, a partir de 2025, tende a ser mais distante por motivação ideológica. Os próximos quatro anos prometem ser carregados de tensão.

postado em 07/11/2024 06:00
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