VISÃO DO CORREIO

Enem e outros desafios na educação

Aumentar os número professores e tornar real a universalização do ensino no Brasil é, sem dúvidas, um dos grandes desafios do Estado

Candidatos chegam ao local de provas do Enem 2024  -  (crédito: Luis Nova/ CB-DAPress)
Candidatos chegam ao local de provas do Enem 2024 - (crédito: Luis Nova/ CB-DAPress)

As abstenções no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano caíram 1,5 ponto percentual na comparação com a edição de 2023  — 26,6% contra 28,1%. Nos últimos cinco anos, a tendência era de crescimento. Os percentuais mais elevados foram registrados em 2020 (55,3%) e 2021 (67%), devido à pandemia de covid-19. Apesar de tímida, a queda no número de faltosos sinaliza que a criação do programa Pé-de-Meia, que garantiu R$ 200 para os estudantes de famílias inscritas no CadÚnico que comparecessem ao exame, começou a surtir um dos resultados esperados pelo Ministério da Educação (MEC). 

Há outros indícios positivos. Entre os mais de 4 milhões de inscritos no Enem 2024, o número de jovens que concluíram o ensino médio aumentou de 1,18 milhão, em 2023, para 1,66 milhão na edição deste ano. Os formandos do ensino médio na rede pública passaram 53%, em 2023, para 94% em 2024. Segundo o ministro da Educação, Camilo Santana, em vários estados, eles chegaram a ser 100% — o DF foi um deles — com base no Censo Escolar. 

Os números são, de fato, animadores, mas o estímulo à permanência dos estudantes nos bancos escolares passa também pela valorização dos professores. Nesse sentido, o anúncio de um novo formato do Pé-de-Meia feito, na semana passada, pelo governo federal chama a atenção. A versão licenciatura terá como objetivo incentivar a formação de professores para suprir o deficit de profissionais nas unidades de ensino. Um desafio tão ou mais complexo quanto o ingresso nas universidades.

Os estudantes que optarem pela licenciatura nas diferentes áreas do conhecimento receberão uma bolsa mensal superior a R$ 500. A intenção do MEC é se espelhar no programa Mais Médicos, a fim de que não faltem professores em nenhuma parte do país. Mais detalhes do projeto deverão ser anunciados nos próximos dias. 

De antemão, despertar o interesse dos jovens pela carreira de docentes exigirá muito do governo. Hoje, há uma crise no setor, uma vez que os professores estão entre as categorias menos valorizadas no país. A pesquisa Perfil e desafios dos professores de educação básica no Brasil — realizada pelo Instituto Semesp, do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior, com 444 docentes do ensino infantil ao médio, de todas as regiões do país e das redes pública e privada — mostra que quase 80% pensaram em desistir da carreira.

Os motivos são: falta de valorização e estímulo da carreira (74,8%), começando pelos baixos salários da categoria. Na sequência, a falta de disciplina e de interesse dos alunos (62,8%), falta de apoio e de reconhecimento da sociedade (61,3%) e falta de envolvimento e participação das famílias dos alunos (59%). As diferentes expressões de violência também reforçam o desestímulo de boa parte dos profissionais. Diante de um cenário tão complexo, cabe perguntar se também não é importante melhorar as condições de trabalho de quem já atua na docência.

Aumentar os número professores e tornar real a universalização do ensino no Brasil é, sem dúvidas, um dos grandes desafios do Estado. O êxito dependerá não só do governo federal, mas dos governos estaduais e municipais, a fim de tornar concreto o discurso de que a educação é prioridade para o desenvolvimento do país e para a erradicação das iniquidades sociais e econômicas.

postado em 05/11/2024 06:00
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