Opinião

Articulações para consolidar o poder em 2025

A disputa pela Presidência da Câmara mostra um parlamento em plena reconfiguração, onde alianças são negociadas a cada instante e lealdades são testadas

Motta é apresentado como o nome certo para unir o parlamento, qualificando-se como uma figura de segurança e alinhamento. Contudo, a disputa é mais ampla e diversa -  (crédito: Mário Agra/Câmara dos Deputados)
Motta é apresentado como o nome certo para unir o parlamento, qualificando-se como uma figura de segurança e alinhamento. Contudo, a disputa é mais ampla e diversa - (crédito: Mário Agra/Câmara dos Deputados)

GABRIEL AMARAL — Cientista político, doutorando em administração pública e sócio da i3P Risco Político

 

As eleições para a Presidência da Câmara dos Deputados trazem um cenário de alta tensão, onde estratégias habilidosas e articulações políticas intensas desenham o futuro do parlamento brasileiro. O atual presidente, Arthur Lira (PP/AL), lançou seu apoio a Hugo Motta (Republicanos/PB), num movimento que sinaliza uma aposta na continuidade da governabilidade e da estabilidade institucional. Com a escolha de Motta, Lira tenta projetar uma liderança confiável e previsível para enfrentar os desafios de 2025. Motta é apresentado como o nome certo para unir o parlamento, qualificando-se como uma figura de segurança e alinhamento. Lira enfatiza as habilidades de Motta para articular e conduzir os debates com leveza e autoridade, acreditando que ele tem as qualidades necessárias para consolidar uma governabilidade eficaz.

Contudo, a disputa é mais ampla e diversa. Antonio Brito (PSD/BA), deputado que optou por manter uma candidatura independente, propõe uma alternativa com foco em pluralidade e consenso, ao mesmo tempo em que constrói uma base de apoio que valoriza a diversidade entre os partidos. Para Brito, "o consenso se constrói em pautas que beneficiem a Casa", uma visão que traz frescor e uma nova proposta de liderança. Em outra frente, Elmar Nascimento (União Brasil/BA) — que, inicialmente, parecia ser o candidato natural de Lira — reafirma sua candidatura com uma postura voltada à renovação e à pluralidade democrática. Nascimento defende um parlamento vibrante, em que o debate acontece de maneira genuína e sem consensos artificiais. Essa visão crítica de Nascimento desafia a aliança formada por Lira, intensificando a disputa e trazendo uma camada extra de complexidade ao cenário político.

Conforme a disputa avança, Nascimento e Brito formam uma aliança estratégica para um possível segundo turno, intensificando a competição. Motta, apoiado pelo PP, reúne cerca de 197 votos, ainda insuficientes para vencer no primeiro turno, enquanto Nascimento e Brito, somando 104 parlamentares, buscam apoio adicional. Com 212 votos em jogo, o PL, com 92 cadeiras, e partidos de esquerda, com 126, tornam-se decisivos. Assim, a vitória dependerá das articulações com esses grupos.

Lira, conhecido por alcançar um recorde de 464 votos em sua eleição anterior, parece, desta vez, adotar a estratégia de uma coalizão mínima vencedora, reduzindo o custo de governabilidade e a necessidade de concessões extensivas. Sua escolha de deixar Nascimento de fora aponta para uma fragmentação intencional do "Centrão", organizando-o em blocos menores e flexíveis, o que reforça sua capacidade de negociar.

A exclusão de partidos centrais, como União Brasil e PSD, gera três cenários principais para o desfecho da eleição. No primeiro, Motta obtém o apoio do PL ou dos partidos de esquerda, enquanto Nascimento e Brito se fortalecem como oposição, resultando na vitória de Motta. No segundo, a aliança entre Nascimento e Brito não atrai novos apoios, permitindo que Motta vença ainda no primeiro turno. E, no terceiro, traições de última hora fragmentam os votos, mantendo o resultado incerto até o fim.

Recentemente, o apoio do PT e do PL a Motta e a mudança do União Brasil, que abandonou Nascimento em prol de Motta, adicionaram um tom dramático ao cenário. Nascimento sente-se traído tanto pelo seu partido quanto por Lira, que facilitou essa virada a favor de Motta. O governo, por sua vez, escolheu alinhar-se ao grupo mais forte, evitando o isolamento e garantindo uma governabilidade mais eficaz para 2025, com menor necessidade de concessões.

Esse processo mostra um parlamento em plena reconfiguração, em que alianças são negociadas a cada instante e lealdades são testadas. A disputa pela Presidência da Câmara, mais do que uma eleição, reflete uma batalha pelo controle do futuro político e pela governabilidade do país, influenciada também por lideranças regionais e suas agendas específicas, que têm intensificado os bastidores dessa disputa. 

Deputados de estados como Bahia, Minas Gerais e São Paulo destacam-se como forças particularmente influentes, articulando-se para garantir que suas demandas locais sejam atendidas no próximo mandato da Presidência da Câmara. Essa pressão regional adiciona mais camadas ao cenário eleitoral, pois cada grupo busca assegurar que a nova liderança priorize pautas que beneficiem diretamente suas bases eleitorais. 

Assim, a disputa pela Presidência se transforma não apenas em uma batalha por governabilidade nacional, mas também em uma arena em que interesses locais e regionais ganham peso, afetando as escolhas dos parlamentares e delineando o jogo de forças que definirá os rumos políticos para 2025 e além.

 


postado em 01/11/2024 06:00 / atualizado em 01/11/2024 09:31
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