JOSÉ PASTORE — Professor da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP e membro da Academia Paulista de Letras
Revelei no "Estadão" o meu desapontamento com a pouca atenção da imprensa escrita, falada e televisada para com um dos fatos mais relevantes do ano: 64 brasileiros competiram com 1.400 alunos de 70 países e classificaram o Brasil em segundo lugar, depois da China, no mais difícil concurso de formação profissional do mundo — o World Skills, realizado, em setembro passado, em Lyon na França.
A medalha de ouro foi conquistada por Bruna P. Martins, aluna do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio de Janeiro (Senac-RJ). Quatro jovens ganharam medalhas de prata: André L. Dono (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo — Senai-SP), João L. Guimarães (Senai-SP), Victor R. Ferreira (Senai-MG) e Estéfany S. Marengoni (Senac-PR). Houve ainda a conquista de três de bronze e 27 de "excelência profissional".
Essas conquistas mereciam maior divulgação para estimular o ensino técnico-profissional no Brasil. As pesquisas são inequívocas a respeito da grande contribuição desse tipo de ensino para os jovens, as empresas e a economia brasileira. Os egressos do Senai e Senac são disputados pelas empresas, logo se empregam, têm pouca rotatividade e ascendem na carreira com muita rapidez. Além disso, têm salário inicial 32% mais altos do que os que passam apenas pelo curso médio convencional. Vejam este fato: para cada R$ 1 investido em escolas profissionais, há um ganho de R$ 3. É uma taxa de retorno fantástica, segundo O impacto da educação técnica, de Ricardo Paes de Barros e colaboradores.
Infelizmente, apenas 10% dos jovens brasileiros cursam essas escolas, enquanto nos países avançados a média está em 50%. Os autores do livro citado estimam que, se o Brasil educar 20% dos jovens no ensino técnico-profissional, o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá mais 2,32% ao ano por um longo período. É outra taxa de retorno fenomenal!
Por isso, a qualificação profissional precisa ser muito estimulada. As vitórias dos brasileiros na World Skills deviam ter sido amplamente divulgadas, não para alimentar a vaidade dos ganhadores (eles não precisam disso), mas para motivar jovens, escolas e governantes a dar mais atenção a esse tipo de ensino.
O Brasil tem muito o que caminhar nesse campo. Segundo pesquisa de 2024 realizada pelo Institute of Management Development (IMD), em Lausane (Suíça), entre 67 países estudados, ficamos na penúltima posição no ranking de competência profissional. O que mais nos prejudicou foi a educação de má qualidade recebida pelos nossos jovens. Nos testes da pesquisa, eles demonstraram uma baixa capacidade de raciocínio, compreensão inadequada de textos e limitadíssimo domínio de operações matemáticas e de línguas.
Para acompanhar as mudanças que ocorrem no mercado de trabalho, impõe-se um sistema de educação, qualificação e requalificação de boa qualidade e oferecidos de forma contínua. Acabou a era em que se podia parar de aprender depois de diplomado. Os jovens que brilharam em Lyon sabem disso e mostraram que estão preparados para estudar a vida toda. Volto ao ponto de partida. Sugiro à grande imprensa amplificar muito a mensagem limitada que apresento neste artigo.