O cenário é a Igreja Matriz de São José, no centro de Recife. Era outubro de 1963 e eu estava ali, bebê de colo, para ser batizada. Mas meus padrinhos, Jonathas e Gilberta, irmãos do meu pai, não chegaram a tempo. Não havia mais tempo para esperar e, então, o padre sugeriu aos meus pais que me consagrassem a Nossa Senhora, a São José e a Santo Antônio. A tensão inicial devido à ausência dos meus tios deu lugar ao humor de papai, sempre presente, e fui entregue aos santos sob risos e aplausos.
Corta o tempo. E aqui estou eu, em 2024, peregrinando a convite da Comunidade Obra de Maria e da Canção Nova, com um grupo grande, alegre, festivo e atento aos ensinamentos, preleções e testemunhos. Ouço novamente a palavra "consagrada" em um dos inspiradores sermões do frei Josué, da Comunidade Mel de Deus, da nossa vizinha Luziânia. No primeiro dia do Congresso Mariano, em Fátima, ele sugere nos consagrarmos à Santa Mãe de Deus. Não titubeio. E você também não ousaria, pois as palavras dele são fortes e convincentes e o ritual de entrega é lindo.
Pego o papel, firmo meu compromisso de entrega e escrevo o nome dos meus para que também sejam consagrados e recebam, mesmo de longe, a força do coração de Jesus e de Maria. Entrego. Estão ali todas as palavras que preciso ouvir com atenção e não renuncio a uma só cláusula deste contrato sagrado.
Entrega é uma palavra forte. Em algum momento, pressupõe renúncia, mas na verdade trata-se de confiança. Quem se consagra entrega o corpo, o coração, os bens materiais e imateriais, para que deles sejam feitos a vontade de Deus. Os que não são afeitos aos estudos da fé podem imaginar que sou uma carola incorrigível e que vivo para servir à Igreja. Mas o fato, meus amigos, é que já compreendi que ELES é que me servem desde o meu nascimento.
Não há alegria maior do que carregar nossa cruz pela vida acompanhada pelo sagrado. Com essa consciência, pensamentos, palavras e ações passam a ser iluminados. E nada fica tão pesado. Com a consagração, renovo os votos do meu batismo e reafirmo meu compromisso de estar longe do mal.
Na etapa final desta peregrinação, trago comigo uma leveza impressionante. Ao longo do caminho, assisti ao espetáculo da fé muitas vezes. Estive com pessoas engraçadas, divertidas — vocês sabem do meu apreço pelo humor — e inspiradoras. Não tenho dúvida de que a alegria é um instrumento de força nas batalhas cotidianas. Renunciei ao dia a dia massacrante de sempre para me permitir esses momentos de luz.Volto consagrada e de coração liberto para viver novos dias. Na bagagem, um relicário com a oração do bom humor de São Tomás More recomendada pelo papa Francisco.