Fábio Vidal*
As eleições no Entorno do DF, assim como no cenário nacional, foram marcadas por uma guinada expressiva para a centro-direita. O que ficou evidente nesse pleito foi o fraco desempenho da esquerda, que não conquistou nenhuma prefeitura na região, acompanhando a tendência nacional.
O que destoou, ao comparar os resultados dos municípios da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) com a perspectiva nacional, foi a performance do PSD, partido de Gilberto Kassab. Em âmbito nacional, o PSD desbancou o MDB ao eleger 877 prefeitos, tornando-se o partido com maior capilaridade no país. No entanto, no Entorno, o PSB não obteve o mesmo sucesso, conquistando apenas a prefeitura de Cavalcante com a reeleição de Valmir Kalunga. Por outro lado, o União Brasil e o PL obtiveram 11 e 7 prefeituras, respectivamente, entre os 33 municípios da Ride que tiveram eleições em 2024.
É importante destacar que essa vitória da centro-direita pode ser interpretada como desunida. A centro-direita no Brasil encontra-se fragmentada entre o centro, agora ocupado pelo PSD, a direita tradicional e a extrema direita. Isso ficou claro na eleição de Goiânia, onde Fred Rodrigues (PL), apoiado por Bolsonaro, representou a extrema direita, enquanto Sandro Mabel (União Brasil) simbolizou a direita tradicional, com o apoio do governador Ronaldo Caiado. Embora a derrota da esquerda tenha sido evidente, também ficou claro que a vitória da centro-direita foi fragmentada. Mas o que podemos refletir sobre a representatividade nas eleições da Ride?
As mulheres, que constituem 51,5% da população brasileira, representaram apenas 12,1% dos eleitos para o Executivo municipal em 2020. Em 2024, 722 mulheres foram eleitas no primeiro turno para o cargo de prefeita, representando um crescimento de 9%. Em termos de representação racial, de cada 10 prefeitos eleitos no primeiro turno de 2024, três se autodeclararam negros, segundo o TSE. Isso resultou em 1.841 prefeitos negros (1.714 pardos e 127 pretos), um crescimento tímido, mas significativo.
Na Ride, em 2020, 14 prefeitos se autodeclararam não brancos (12 pardos e dois pretos), e em 2024, esse número subiu para 15 (12 pardos e três pretos), além de um candidato eleito que não informou sua raça/cor ao TSE. Embora as mudanças sejam pequenas, a eleição da prefeita Simone Ribeiro (PL) em Formosa, que se autodeclara preta, é um marco importante. Simone será a primeira mulher negra a governar o quarto município mais populoso da Ride, o que aumenta ainda mais sua responsabilidade.
Quanto à representatividade feminina, em 2020, quatro prefeitas foram eleitas na RIDE, sendo uma parda e as demais brancas. Em 2024, novamente quatro mulheres foram eleitas, incluindo a reeleição de Dona Dete, prefeita de Simolândia (GO). Das eleitas, uma se autodeclarou branca, duas pardas e uma preta, o que mostra um avanço na diversidade racial das prefeitas da região. Esse crescimento é significativo para a política de presença, pois ter uma mulher negra no Executivo serve de exemplo para outras mulheres que almejam participar ativamente da política e disputar cargos eletivos.
No entanto, eleger líderes mulheres e negros, por si só, não é suficiente. Há uma diferença significativa entre a autodeclaração no momento da candidatura, a afirmação de gênero e a atuação política efetiva. É preciso lembrar que o poder de ação de um prefeito ainda é bastante limitado, seja pelas restrições do orçamento municipal, que oferece pouca margem de manobra diante dos diversos desafios e prioridades, seja pela necessidade da cooperação da Câmara dos Vereadores para que o(a) prefeito(a) encampe os seus projetos. Conforme o ditado popular "uma andorinha só não faz verão", e a implementação de projetos depende dessa sinergia entre os poderes Executivo e Legislativo.
Além disso, um aspecto que muitas vezes passa despercebido em análises meramente quantitativas dos resultados eleitorais é que o fato de eleger prefeitos(as) negros(as) não garante, automaticamente, que esses gestores implementarão políticas antirracistas ou que promoverão maior igualdade racial no município. O mesmo vale para as lideranças femininas: ser mulher não significa, necessariamente, que seu mandato resultará em avanços para pautas femininas ou para as questões de gênero. Portanto, uma coisa é o resultado eleitoral, outra é a atuação política. Nos resta acompanhar os mandatos para verificar os fatores desta equação.
Cientista político e professor da Faculdade Republicana*