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Trump, uma ameaça

Para retornar à Casa Branca, Trump sacrifica a verdade. Se é que em algum momento manteve algum tipo de compromisso com ela

Donald Trump deu a entender que forja um "golpe", caso perca as eleições de novembro. Ou que revestirá o seu governo de viés autoritário, com a caçada implacável a adversários políticos. Nada surpreendente vindo de alguém que instigou a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e tentou subverter o resultado das eleições. Ao ser questionado por uma jornalista da emissora Fox News sobre a possibilidade de imigrantes e agitadores prejudicarem as eleições, o magnata republicano saiu-se com essa:"Acho que o maior problema são as pessoas de dentro, temos algumas pessoas muito ruins, doentes".

Foi então que Trump verbalizou uma ideia absurda. "Isso deveria ser facilmente resolvido, se necessário, pela Guarda Nacional, ou se for realmente necessário, pelos militares, porque eles não podem deixar isso acontecer", afirmou. Deixar o quê acontecer? Perder as eleições? Como se esse não pudesse ser um resultado bem plausível em uma democracia? É a mentalidade dos autocratas: o poder a todo o custo.

Para retornar à Casa Branca, Trump sacrifica a verdade. Se é que em algum momento manteve algum tipo de compromisso com ela. Depois de sugerir, durante um debate com a democrata Kamala Harris, que imigrantes de Springfield (Ohio) estariam matando animais domésticos de norte-americanos para comê-los, o republicano sugeriu que sua adversária não teria força suficiente para comandar os Estados Unidos. A campanha de Kamala não perdeu tempo e divulgou o boletim médico da vice-presidente. Em um corrida eleitoral, transparência pode ser tudo.

Não bastassem o descompromisso com a democracia e com a verdade, Trump deu mostras de misoginia e xenofobia. Chegou a publicar posts de conteúdo sexista e pornográfico, em alusão a Kamala e à ex-secretária de Estado Hillary Clinton. Anunciou que, caso eleito, promoverá a maior deportação em massa de imigrantes ilegais na história dos EUA. Também associou os estrangeiros não documentados a criminosos da pior estirpe. Trump também responde a processos na Justiça e está longe de ser um político exemplar ou ficha limpa.

Aceitar que um ex-presidente que colocou uma faca contra o pescoço da democracia — um dos valores mais sagrados do Ocidente — e demonstrou comportamento avesso ao de um estadista possa retornar à Casa Branca é algo tão absurdo quanto surreal. Não existe parâmetro entre a sensatez e a lucidez de Kamala Harris e o radicalismo extremado de Donald Trump. Reconduzir Trump ao cargo mais poderoso do planeta pode ter custos altíssimos para os Estados Unidos e o mundo. Em 20 dias, os norte-americanos terão a oportunidade de votar pela esperança ou de ameaçar de morte a democracia.

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