Artigo

As desigualdades socioespaciais no país existem há séculos

A produção agrícola traz benefícios para a região se houver processamento da matéria prima das lavouras existentes em termos de movimento de capitais e de empregabilidade

ALDO PAVIANI — Geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB)

Violência e desigualdade se registram há séculos em diversos territórios e regiões nos dois hemisférios de nosso planeta. A violência foi tratada por diversos autores na coletânea Brasília: dimensões da violência urbana (Paviani, A. et. al./orgs., Col. Brasília, Editora UnB: 2005). Por ser essa uma obra alentada com 377 páginas e os autores desenvolvem o tema com expertise. Essa crucial temática assoberba governantes e cidadãos de todo o mundo, em especial os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, bem assim os países do Oriente, da Europa e das Américas. No Oriente Médio, por exemplo, há um conflito, que parece recrudescer a cada dia com o aumento das hostilidades entre os países envolvidos com violência armada, de um lado Israel e, de outro, países árabes mais próximos, como Irã, Palestina e aliados do Oriente Médio.

Neste ensaio, trataremos do tema circunscrito ao Brasil, em que as cinco grandes regiões foram definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) há mais de seis décadas (Grandes regiões, Rio de Janeiro, 1960). Essas regiões foram estabelecidas como cinco grandes territórios por homogeneidades socioespaciais e por suas localizações geográficas: Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Todas têm bolsões de pobreza e subdesenvolvimento — em diferentes graus, como o Norte e o Nordeste. O Centro-Oeste, tido como zona de transição, mudou suas tendências, a partir da transferência da capital do Brasil, no Rio de Janeiro, para Brasília, evento que aconteceu pela constante determinação de Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK), há 64 anos. Essa transferência ocasionou o avanço populacional em direção ao Centro-Oeste e, com menor expressão, para o Norte, em especial para Rondônia, onde as cidades cresceram em população e nas atividades de serviços, agricultura, comércio e incipiente industrialização.

Com a transferência da capital federal para Brasília, houve benefícios para Goiás, sobretudo em cidades próximas — Anápolis, Goiânia e grande expansão em Luziânia e seus arredores. No vocabulário de setores midiáticos e populares esse território passou a ser denominado Entorno, e que Goiás, em boa hora, em decreto passou para Região Metropolitana (seria mais correto denominar Área Metropolitana, pois envolve menor número de municípios do que uma região), igualmente não se confunde com a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride).

Essa Ride é instrumento mais político-econômico do que técnico, pois, ao longo dos anos, avançou de duas dezenas de municípios para mais de 30, sob a demanda de políticos — prefeitos e deputados — e não da classificação técnica de instituição estadual ou federal (Ver Nota Técnica nº 1 da Codeplan, de dezembro de 2014).

Pensa-se que, sendo denominadas área ou região, em nada haverá mudanças para diminuir as desigualdades sociais e espaciais desse território, pois nele se desenvolvem atividades agrícolas com o que foi produzido — basicamente nas lavouras de soja, milho e feijão —, onde há procedimentos tímidos na indústria para que possam agregar valor ou empregar um número considerável de pessoas da cidade ou nas áreas próximas. Com empreendedorismo se poderiam considerar essas questões e verificar as oportunidades existentes e possibilitar a implantação de indústrias para suprir demandas existentes, evitando a exportação de matérias-primas em bruto como ocorre na atualidade.

Quem viaja de carro ou ônibus por essas paragens isoladas, uma vez ou outra, depara-se com complexos industriais combinando silos de estocagem e, bem próximos a eles, prédios de processamento dos produtos existentes. A vantagem de assim fazer resulta em vantagens para os empreendedores locais e para os trabalhadores de áreas ao redor. A produção agrícola traz benefícios para a região, se houver processamento da matéria-prima das lavouras existentes em termos de movimento de capitais e de empregabilidade. Em algum momento, pesquisas deverão ser feitas para adequar o investimento feito e o resultado das exportações para metrópoles brasileiras ou diretamente para o exterior.

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