ANDRÉ GUSTAVO STUMPF — Jornalista
Os senhores da guerra, usualmente, não conseguem atingir seus objetivos por intermédio de tiros e bombas. Os norte-americanos invadiram o Iraque, saquearam o país, subtraíram o petróleo e suas riquezas históricas, mas não conseguiram se manter a salvo dentro daquele território. Foram obrigados a sair. Os franceses perderam no Vietnã, antes de os norte-americanos também serem derrotados. E os ingleses foram expulsos do Afeganistão, depois de tentarem subjugar o país. Em 1942, as tropas de Hitler dominavam praticamente toda a Europa. Ao fim do conflito, em 1945, a Alemanha foi dividida em dois países e o ditador se suicidou.
Nos anos 30 do século passado, o Oriente Médio era um deserto com reduzidas perspectivas econômicas. Os ingleses dominavam a região e não gostavam que estrangeiros de outras nacionalidades entrassem na área. Mas a Armada Real, que deixara de utilizar carvão como combustível e aderiu ao petróleo, teria de ser atendida. Em maio de 1932, a empresa Bahrain Company, canadense com origem norte-americana, descobriu petróleo na região. E abriu os olhos das empresas dos Estados Unidos que relutavam em investir em prospecção no deserto. Os americanos, logo depois, descobriram petróleo na Arábia Saudita e assinaram um tratado de proteção recíproca, que está em vigor até hoje.
Os ingleses cortaram o Oriente Médio em fatias. Colocaram muçulmanos de tendências opostas dentro de um mesmo país. Desmembraram a região em linhas retas. Foi obra de Winston Churchill, com objetivo de manter o domínio inglês na região. Na Europa, década depois, Hitler iniciou sua perseguição aos judeus que se espalharam por todo o mundo. A maioria deles, no leste europeu, preferiu migrar para a Palestina, que era protetorado britânico. Tempos depois, ao fim da segunda guerra, foi criado o estado de Israel, destinado a conviver em paz com os palestinos. O problema europeu, a perseguição de judeus, transformou-se em assunto sério no Oriente Médio. Israel não tem petróleo, mas seus vizinhos, sim. Qualquer briga lá, interfere no comércio em todo o mundo.
Uma instituição judaica chamada Haganah, que posteriormente se transformaria no Exército de Israel, forneceu meios e modos para que os judeus se instalassem na Palestina, contra a orientação dos ingleses. Sabotaram instalações, dificultaram ações dos governantes locais e assumiram funções terroristas até que recebessem condições para criar um novo país. Israel surgiu em meio à pesada guerra contra seus vizinhos árabes. Nunca teve uma vida tranquila e fácil. O normal naquela área é a guerra. Mas a circunstância de que a região é a maior produtora de petróleo do mundo, coloca o conflito numa escala mundial. É um assunto local, permeado por questões religiosas, complicado pelo expansionismo de Israel, que influi nos destinos do mundo.
A guerra entre Israel e seus vizinhos não é novidade. Novidade é o Irã entrar no conflito. Foi o principal apoio dos Estados Unidos na região, quando ainda se chamava Pérsia. Não é um país árabe. O idioma que se pratica no país é o farsi. Tem nível interessante de desenvolvimento. E está muito perto de produzir uma bomba atômica. Reúne os conhecimentos necessários para construir o artefato. Neste momento, o mundo está bordejando uma séria possibilidade de tragédia de enormes proporções na região. Israel tem bombas atômicas. Se o governo se sentir ameaçado, como foi recentemente com a chuva de mísseis vinda do Irã, pode recorrer ao gesto supremo e fazer o cogumelo nuclear brilhar naquele céu.
São duas guerras perigosas. A de Israel contra seus vizinhos não tem parâmetros. O exército israelense mata tudo que vê pela frente: mulher, criança, velho e eventualmente o inimigo. A outra guerra é da Ucrânia, em que a Rússia se atolou e revelou a atual fraqueza do antigo exército vermelho. Putin e Netanyahu sabem que Joe Biden é um legítimo pato manco. Está em fim de mandato. Em janeiro, estará fora do poder. E apostam na vitória de Donald Trump. Se o republicano vencer a eleição nos Estados Unidos, Putin deverá dominar rapidamente a Ucrânia e os palestinos deixarão de existir, porque o primeiro-ministro vai conseguir chegar a seu objetivo: criar a grande Israel, ou seja, ampliar seu espaço vital.
Hitler, por acaso, tinha o mesmo objetivo para a Alemanha, na Segunda Guerra Mundial. Espaço vital. A eleição nos Estados Unidos que deverá ocorrer em novembro próximo vai ajudar a definir o conflito. Por essa razão, as tropas israelenses precisam avançar mais, devastar mais, matar mais, para criar um fato consumado, em torno do qual ocorrerão as negociações com o novo presidente dos Estados Unidos. Nesse caso, a guerra no Oriente Médio coloca em jogo mais que o petróleo. O destino da democracia no Ocidente está na mesa de apostas.