Guerra

Hamas, Israel e o Oriente próximo

Há um bom tempo a guerra já não se resume ao Hamas e a Israel. Outros atores, regionais e extrarregionais, estão intensamente envolvidos no conflito

PIO PENNA FILHO — Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB)

Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou um mortífero ataque contra Israel, matando cerca de 1,2 mil pessoas e sequestrando centenas de cidadãos israelenses, muitos dos quais permanecem em cativeiro. Foram atos de extrema barbárie e violência que chocaram o mundo, provocando a ira de Israel, que jurou vingança. Praticamente um ano após o ataque, a Faixa de Gaza, até então controlada pelo Hamas, está praticamente destruída. Os principais alvos do Hamas não foram os militares ou instalações militares de Israel, mas, sim, a população civil. 

O Hamas, também conhecido como Movimento de Resistência Islâmica, foi criado em 1987 e não reconhece a legitimidade do Estado de Israel. No âmbito da Palestina, o Hamas se opôs ao Fatah, organização criada em 1959 por, entre outros, Yasser Arafat, que atuava junto à Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Os dois movimentos entraram em choque por terem visões políticas distintas e, inclusive, foram protagonistas de uma guerra que opôs palestinos da Faixa de Gaza (Hamas) e da Cisjordânia (Fatah), criando uma cisão no movimento.

O Hamas é um movimento radical e denominado por vários atores internacionais como uma organização terrorista. De fato, seus métodos violentos foram evoluindo, de ataques individuais, como atentados suicidas, lançamento limitado de foguetes, até o último episódio, que contou com a invasão do território israelense, ataque intenso de foguetes contra diversos alvos e sequestro de pessoas.

Como era de se esperar, veio a reação de Israel. E não foi uma reação qualquer. O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu respondeu de forma absurdamente desproporcional. Seu objetivo principal, segundo as autoridades israelenses, era a de "destruir" definitivamente o Hamas. Aliás, como se isso fosse realmente possível. Os métodos aplicados, e que continuam a ser empregados, são tão ou mais brutais que aqueles utilizados pelo Hamas quando dos ataques de 7 de outubro de 2023.

Até agora, o resultado foi a destruição da maior parte da Faixa de Gaza e a morte de mais de 40 mil palestinos — entre eles, crianças, mulheres, idosos e homens, sejam eles militantes ou não do Hamas. E muitos ainda irão perecer em decorrência da guerra. A brutalidade de Israel chamou a atenção do mundo, e muitos alegam um verdadeiro genocídio. Não houve seletividade, os ataques e bombardeios foram indiscriminados. 

Essa guerra, que é continuidade de guerras anteriores, só faz alimentar o ódio mútuo entre palestinos e judeus. Difícil pensar numa solução pacífica para as diferenças entre esses dois povos no médio e longo prazo. As humilhações constantes impostas por Israel contra os palestinos, tanto da Faixa de Gaza quanto da Cisjordânia, a violência cotidiana, as ocupações ilegais de territórios palestinos, tudo isso remete a um ciclo de violência quase infindável.

Aliás, há um bom tempo a guerra já não se resume ao Hamas e a Israel. Outros atores, regionais e extrarregionais, estão intensamente envolvidos no conflito. Os principais são o Irã e os Estados Unidos da América. O Irã apoiou e apoia o Hamas (além do Hezbollah e dos Houthis) principalmente com armas e munições, enquanto os Estados Unidos ajudam Israel de todas as formas possíveis. 

A atuação de outros atores amplia o conflito para além dos territórios palestinos e de Israel. Após a Faixa de Gaza, o principal alvo, por enquanto, é o Líbano, que vem passando por uma intervenção terrestre e repetidos ataques aéreos que já ceifaram a vida de mais de mil pessoas. O recente ataque de mísseis balísticos do Irã contra Israel é também um desdobramento da guerra entre o Hamas e Israel, o que torna a região ainda mais instável.

Parte da solução existe, mas os israelenses não a aceitam. E o lado mais radical dos palestinos, também não. Enquanto não existir um Estado Palestino, soberano, respeitado e viável economicamente, os ressentimentos e a violência continuarão a existir. E, naturalmente, é imprescindível que os palestinos aceitem a existência do Estado de Israel. Só assim, será possível a construção da paz na região.

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