Guerra

Oriente Médio em alerta máximo

Acreditar que o Hezbollah e o Hamas podem ser destruídos por meio de uma ação militar, é ser ingênuo ao extremo. Ambas facções estão incrustadas no seio das sociedades libanesa e palestina

Quase 200 mísseis lançados pelo Irã contra Israel, na noite da última terça-feira, podem ter selado o início de uma guerra total no Oriente Médio. Se o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, postergar uma retaliação ou não reagir, tal atitude poderá soar como fragilidade. Se Israel atacar o país teocrático islâmico, pode deflagrar um ciclo de violência de consequências imprevisíveis.

Enquanto escrevia esse artigo, as Forças de Defesa de Israel travavam ferozes combates com o movimento xiita Hezbollah, no sul do Líbano. Somente nesta quarta-feira, oito soldados israelenses morreram em emboscadas e sete ficaram feridos. Os militantes do Hezbollah conhecem o front como ninguém.

Estive na fronteira norte de Israel, em março do ano passado. Uma região montanhosa, de difícil acesso, repleta de arbustos e convidativa para emboscadas com lança-mísseis e explosivos. Há quem diga que Israel trava um conflito indireto com o Irã ao alvejar seus "procuradores" no Oriente Médio: o Hamas, o Hezbollah e os rebeldes huthis, do Iêmen.

O ataque israelense ao Hezbollah surpreendeu o movimento xiita e o Irã. Primeiro, o Mossad — serviço secreto de Israel — implantou explosivos plásticos em pagers e walkie-talkies vindos supostamente de Taiwan ou da Holanda, depois de interceptar o carregamento encomendado pela milícia. A ofensiva, sem precedentes, clara violação do direito internacional, matou e incapacitou milhares de combatentes do Hezbollah.

Os assassinatos seletivos de comandantes das várias unidades do movimento foram sucedidos pelo golpe final de misericórdia. A aviação israelense realizou um pesado bombardeio ao quartel-general do Hezbollah, em Beirute, matando o xeque Hassan Nasrallah, líder máximo e um de seus fundadores. O bombardeio iraniano a Israel — o segundo em menos de seis meses — visa impedir a destruição de todo um aparato militar e ideológico do Irã na região.

Mas, acreditar que o Hezbollah e o Hamas podem ser destruídos por meio de uma ação militar é ser ingênuo ao extremo. Ambas facções estão incrustadas no seio das sociedades libanesa e palestina. Tornaram-se muito mais uma ideologia do que organizações estruturadas.

A matança no Líbano e na Faixa de Gaza pode até impactar momentaneamente os dois grupos, mas abre as portas para o fortalecimento de ambos a longo prazo, à medida que mais civis desejarão se alistar às suas fileiras, ávidos pela vingança. Antes, Israel precisará decidir como será a resposta ao Irã. E arcar com as consequências para a própria segurança e para todo o Oriente Médio.

 


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