Parte do noticiário internacional, nas últimas semanas, se voltou ao escândalo que envolve o rapper Sean Combs, conhecido como Puff Daddy ou P. Diddy. Magnata nascido no Harlem, em Nova York, o artista pode ser condenado a cerca de 25 anos de prisão por diversas acusações, como tráfico sexual, associação ilícita e promoção de prostituição, além de agressão contra ums ex-namorada, a também cantora Cassie Ventura. Para além do mundo das celebridades, o escândalo esquenta os debates sobre os estragos causados por falsas notícias e pelos chamados influencers, além dos excessos nas relações de trabalho.
Com as denúncias, surgiu na internet uma onda de teorias que ligam Sean Combs a outros famosos — e, com elas, novos crimes foram atribuídos a ele. Não é necessária muita habilidade com as redes sociais para se deparar com conteúdos do tipo, boa parte deles produzida por influenciadores. Pela própria fama do acusado e sua proximidade com nomes históricos do mundo da arte, essas teorias são carregadas de achismos e supostas ligações que não deveriam ser tema de vídeos e postagens de quem tem pouco a oferecer. Na verdade, essas pessoas só querem aproveitar a repercussão do caso para ganhar dinheiro fácil a partir do alcance nas redes sociais.
Trata-se de mais um desserviço prestado por parte significativa dos chamados influenciadores, que vivem da audiência pela audiência, sem qualquer apuração do que é ou não verdade. São os mesmos que, por exemplo, propagam falsas vantagens de investimentos em casas de apostas, prometendo grandes lucros para uma audiência que, muitas vezes, é enganada e compromete até mesmo recursos de programas sociais nos cassinos digitais, e que disseminam inverdades para manipular a disputa política.
Casos como os de Sean Combs são complexos por si só. Em primeiro lugar, por conta do próprio poder que circunda o acusado. Como bilionário e influente no mundo da música, Diddy conseguiu, por muito tempo, acobertar as denúncias. Além do mais, vale sempre lembrar que homens em posição de destaque tendem a calar suas vítimas, que veem pouca possibilidade de serem ouvidas numa queda de braço bastante desequilibrada. A prática é rotineira em outros cenários. De 2020 a 2023, a Justiça do Trabalho brasileira julgou, em todas as suas instâncias, 419.342 ações envolvendo assédio moral e assédio sexual — mulheres costumam ser as principais vítimas. A quantidade de processos para ambos os crimes cresceu, respectivamente, 5% e 44,8% no período.
Diante das dificuldades que envolvem escândalos com pessoas poderosas, em nada ajuda quem prefere tomar o rumo da especulação para criar narrativas. É preciso que o consumidor desse tipo de conteúdo também faça sua curadoria. Questione se aquele influenciador tem, de fato, capacidade técnica de "separar o joio do trigo", se a promessa de dinheiro e soluções fáceis não se trata de uma grande armadilha.
Também é preciso discutir como, mais uma vez, o machismo se impõe no mundo da arte. É bem verdade que essa camada da sociedade só reflete os problemas manifestados em todos os grupos sociais, uma vez que a violência contra a mulher não tem idade, cor ou condição financeira. Ainda assim, o ódio entre aqueles com mais poder é de difícil detecção, contornado por máscaras revestidas e costuradas pela idolatria.
Saiba Mais