SERGIO DIAZ-GRANADOS — Presidente executivo do Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF)
Neste exato momento, milhões de processos biológicos estão acontecendo ao nosso redor. As plantas nas casas, a vegetação em jardins e parques, as árvores nas florestas ou as espécies nas profundezas dos mares, rios e montanhas estão travando sua própria luta pela sobrevivência, em um processo evolutivo que remonta à origem dos tempos e que, hoje, está cada vez mais condicionado pela ação humana.
Esse espírito de regeneração contínua, de alianças simbióticas entre espécies, de impulsos naturais e recursivos, é o que a América Latina e o Caribe precisam apresentar na COP16 de Biodiversidade, em Cali, Colômbia, para evoluírem na luta ambiental e ocuparem a posição de liderança global à qual estão destinados. A região abriga 60% da biodiversidade do planeta, 80% dos biomas do mundo e 30% dos recursos de água doce disponíveis, o que significa que temos muito a contribuir.
Nossos ecossistemas estratégicos são únicos e essenciais para manter o equilíbrio ambiental do planeta. Por meio de iniciativas de preservação dos Páramos, da Patagônia, do Caribe, das florestas de Tumbes no Chocó e Magdalena, da Mata Atlântica, do corredor biológico mesoamericano, dos manguezais, da Amazônia e da Corrente de Humboldt, entre outros, temos o potencial de replicar soluções de biodiversidade em todo o mundo. Por isso, na COP16, a América Latina e o Caribe devem reafirmar que são potências megabiodiversas e uma região de soluções.
Mas, para chegar a esse ponto, primeiro precisamos multiplicar as políticas públicas de preservação de nossos ecossistemas estratégicos. Todos os países da região ratificaram a Convenção sobre Diversidade Biológica (um acordo de 1993 que busca a conservação da biodiversidade), mas poucos apresentaram planos de ação para a proteção da diversidade biológica até 2030. Esses planos são um dos grandes marcos da COP15 de Kunming-Montreal, de 2022, em que foram estabelecidas 23 metas para deter e reverter a perda de biodiversidade até 2030, além de quatro objetivos para alcançar uma biodiversidade positiva em 2050.
A Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade das Partes sobre Diversidade Biológica (COP16) de Cali, na Colômbia, é um evento histórico para revisar os avanços dos planos de ação, mas também para abordar aspectos importantes, como o estabelecimento de um quadro equitativo e justo de acesso aos benefícios dos recursos genéticos ou a criação de um novo quadro de acompanhamento da mobilização comprometida de 200 bilhões de dólares até 2030.
Nesse sentido, precisaremos criar consensos para mobilizar mais fundos e implementar mecanismos financeiros inovadores, como a emissão de títulos verdes, a troca de dívida por natureza, seguros contra catástrofes ou certificados de biodiversidade. Um bom exemplo disso ocorreu, recentemente, com a maior conversão de dívida da história (um total de 1 bilhão de dólares) para a conservação de bacias hidrográficas em El Salvador, fruto do trabalho coordenado por várias instituições, como o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (DFC), Catholic Relief Services (agência humanitária), Fundo de Investimento Ambiental de El Salvador (Fiaes), ArtCap Strategies (grupo de investimento).
Os bancos de desenvolvimento são cruciais para fornecer e mobilizar novos recursos financeiros, mas também para articular as agendas de desenvolvimento dos países a longo prazo. Se os bancos multilaterais tivessem mais capital, teriam o potencial de ser mais eficazes na multiplicação e mobilização de recursos, bem como em papéis anticíclicos.
A América Latina e o Caribe também devem dar voz aos jovens nos debates ambientais e promover a participação das comunidades afrodescendentes e povos indígenas, fomentando fórmulas para incluir os saberes ancestrais nas agendas climáticas, de sustentabilidade e biodiversidade. Essas vozes serão fundamentais para reafirmar nosso compromisso com a equidade, inclusão e justiça climática.
Para acelerar todos esses debates, o CAF leva à COP16 um espaço único com o Pavilhão "A biodiversidade nos une", para facilitar o intercâmbio de experiências, unir esforços, explorar oportunidades de colaboração e aumentar a visibilidade das soluções oferecidas pelos países como um todo.
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Em nosso pavilhão, também promovemos espaços de diálogo com instituições científicas, com o objetivo de ouvir a voz da ciência e contribuir para divulgar e implementar soluções baseadas na ciência. Nesse sentido, nos meses anteriores à COP16, convocamos mais de 20 instituições científicas internacionais para conscientizar sobre a importância dos dados, da ciência, da colaboração regional e da aplicação de métodos científicos para solucionar problemas associados à perda e restauração da biodiversidade.
A América Latina e o Caribe são uma região-chave para preservar a biodiversidade e a estabilidade ambiental do planeta, e, por isso, na COP16 de Cali precisamos promover nosso papel como potência mundial em biodiversidade. Só assim conseguiremos que nossa voz permeie os grandes debates ambientais que moldarão o desenvolvimento nas próximas décadas.