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Trump e a aposta de risco

Trump não demonstrou o mínimo apreço pela democracia, segundo vários especialistas em ciência política

Donald Trump deixa o palco depois de participar de mesa redonda em Drexel Hill, na Pensilvânia -  (crédito: Charly Triballeau/AFP)
Donald Trump deixa o palco depois de participar de mesa redonda em Drexel Hill, na Pensilvânia - (crédito: Charly Triballeau/AFP)

Nos últimos dias, Donald Trump adotou uma aposta de alto risco: uma retórica com doses de ódio, xenofobia, misoginia e racismo. Com o tradicional slogan "Tornar a América grande novamente", uma releitura da última campanha, o republicano prometeu expulsar latinos dos Estados Unidos. Jogou em um mesmo balaio imigrantes, estupradores, traficantes e outros criminosos. Em seus discursos, buscou tratar os estrangeiros ilegais como a escória da sociedade. Dos 46,6 milhões de imigrantes nos Estados Unidos, 11 milhões são não documentados. Ainda assim, ajudam a movimentar a economia do país, ao realizar trabalhos pesados, apesar de serem mão de obra barata e pouco qualificada. Sim, os imigrantes ajudam a construir os EUA. Ao não se ater a isso, Trump corre o risco de se indispor com os próprios eleitores.

No domingo, o magnata fez um discurso no Madison Square Garden, em um evento marcado por demonstrações de racismo. A principal polêmica ficou a cargo do humorista Tony Hinchcliffe. "Muita coisa está acontecendo. Não sei se vocês sabem, mas literalmente existe uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano agora. Acho que se chama Porto Rico", disse. A "piada" pode ter ricocheteado e acertado o pé do ex-presidente, quando faltavam 10 dias para as eleições. A população de Porto Rico e todos os imigrantes latinos provavelmente ficaram muito ofendidos.

Trump tentou suavizar o discurso com uma obviedade: afirmou não ser nazista. Nas últimas semanas, o candidato republicano adotou uma retórica mais radical e extremista. Avisou que promoverá a maior deportação em massa da história dos Estados Unidos; prometeu prender e processar na Justiça autoridades eleitorais e eleitores, caso haja o mínimo de desconfiança sobre o resultado das urnas; acenou por várias vezes que, em caso de derrota na próxima terça-feira, não reconhecerá o pleito. Em resumo, não demonstrou o mínimo apreço pela democracia, segundo vários especialistas em ciência política.

Donald Trump chega às vésperas da eleição com chances verdadeiras de ser reconduzido à Casa Branca. Ele tem crescido nas pesquisas e atravessa um momento de entusiasmo na campanha. Mesmo depois de ter insuflado as massas a invadirem o Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e de colocar em xeque sua derrota eleitoral para Joe Biden. As eleições deste ano são, talvez, as mais consequentes da história recente dos EUA. Prometem ser emocionantes até a disputa do último delegado.

 


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postado em 30/10/2024 06:00 / atualizado em 30/10/2024 09:00
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