Vanessa Rosa — Artista multidisciplinar especializada em colaboração humano-IA.
Se você vive em uma grande cidade e está conectado à internet, a inteligência artificial (IA) já faz parte da sua rotina. A onipresença da IA reflete sua rápida integração em praticamente todos os aspectos da sociedade. Desde algoritmos que personalizam nossas experiências on-line até sistemas de reconhecimento facial, a IA está silenciosamente moldando o mundo ao nosso redor.
A regulamentação das empresas de tecnologia e novas políticas sociais são essenciais, mas complexas. Discussões como a da renda básica universal ganham força à medida que a automação ameaça empregos. Enquanto governos e corporações debatem o assunto, educar-se sobre as tecnologias que moldam nosso futuro pode ser a melhor escolha para os cidadãos comuns.
Mas afinal, o que é inteligência artificial? Em sua essência, é a simulação de processos de inteligência humana por sistemas computacionais. Isso inclui aprendizagem, raciocínio e autocorreção. O aprendizado de máquina, subconjunto da IA responsável pelo boom tecnológico que vivemos, utiliza modelos estatísticos e probabilísticos para encontrar padrões em grandes conjuntos de dados, permitindo que sistemas façam previsões ou decisões sem serem explicitamente programados para uma tarefa específica.
Dentro desse campo, as redes neurais artificiais se destacam como uma abordagem particularmente poderosa: inspiradas na estrutura do cérebro, elas podem modelar relações extremamente complexas entre dados. Um modelo de IA, nesse contexto, refere-se a um programa de computador treinado em um grande conjunto de dados para realizar uma tarefa específica. Nos últimos anos, testemunhamos o surgimento de modelos multimodais capazes de lidar com texto, imagens e outros tipos de dados simultaneamente.
Apesar de seus avanços, as limitações da IA incluem a possibilidade de gerar informações incorretas ou tendenciosas, além de não entender o contexto ou a causalidade como os humanos. No entanto, muitas dessas falhas estão sendo superadas rapidamente, e diferenciar conteúdo criado por IAs daquele criado por humanos está cada vez mais difícil.
A criação híbrida, onde humanos colaboram com IAs, é realidade em muitos campos. Artistas usam IA para criar aplicativos sem programação, enquanto programadores exploram seu lado criativo. Novas profissões estão surgindo, como engenheiros de prompt, que criam instruções para IA, e curadores, que refinam resultados gerados por máquinas.
Em breve, a criação híbrida com humanos controlando IAs será comum, resultando em uma explosão de conteúdo. A quantidade de informações será tão vasta que processá-las será um desafio constante. Nesse cenário, o trabalho humano se concentrará em treinar e orientar IAs, criando uma simbiose entre inteligência humana e artificial.
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Para aqueles que desejam aprender mais sobre IA, há inúmeros recursos disponíveis, como cursos on-line e artigos científicos, como Attention is all you need e ImageNet classification with deep convolutional neural networks, além de livros, como The master algorithm e Life 3.0, e canais do YouTube, como 3Blue1Brown e Two Minute Papers. Sobre questões filosóficas, temos os clássicos Gödel, Escher, Bach, de Douglas Hofstadter, e Mind children, de Hans Moravec.
É importante destacar que o Brasil tem potencial significativo neste setor. Temos pesquisadores e empreendedores brasileiros fazendo contribuições importantes, como Apolinário Passos, artista e engenheiro de aprendizado de máquina aplicado à arte, e Nina da Hora e Silvana Bahia, que têm feito um trabalho notável na intersecção entre IA e ética. Universidades brasileiras também têm grupos de pesquisa de ponta em IA, como o C4AI, da Universidade de São Paulo (USP), e o Laboratório de Sistemas Inteligentes da Unicamp.
Para que o Brasil aproveite plenamente as oportunidades oferecidas pela IA, é crucial que haja um debate público sobre o tema. Isso requer não apenas a participação de especialistas técnicos, de elaboradores de políticas públicas, empresários, educadores e cidadãos em geral. Um exemplo é o Projeto de Lei n° 2.338, em debate no Congresso, que visa regular o desenvolvimento da IA no Brasil, estabelecendo diretrizes éticas e protegendo os direitos dos cidadãos. Alinhado com tendências internacionais, como o AI Act, da União Europeia, o PL categoriza sistemas e impõe requisitos mais rigorosos para aplicações de alto risco.
Regulamentar a IA é um desafio em constante evolução. As políticas públicas precisam ser flexíveis para acompanhar as mudanças tecnológicas e sociais. A mídia tem papel essencial em promover o diálogo entre especialistas, legisladores e cidadãos. Esse debate contínuo é essencial para equilibrar inovação e proteção de direitos individuais. À medida que a IA se torna cada vez mais presente no cotidiano, é imperativo que a sociedade brasileira permaneça engajada nesse debate, contribuindo para a formação de políticas públicas robustas e equilibradas que possam maximizar os benefícios da IA enquanto mitigam seus riscos potenciais.
Ter medo da IA faz sentido, mas buscar conhecimento é a melhor resposta. Ela já está transformando nossas vidas e compreendê-la nos permite não apenas nos adaptar, mas também moldar seu desenvolvimento em benefício da sociedade. O futuro da IA está sendo escrito agora, e todos temos um papel nessa história.
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