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Alta de juros: queremos pagar essa conta? 

As consequências do aumento da taxa são pesadas para o Brasil. Quando a Selic sobe, os juros pagos pelo governo sobre sua própria dívida também aumentam

PRI-2911-JUROS -  (crédito: Maurenilson Freire)
PRI-2911-JUROS - (crédito: Maurenilson Freire)

João Fukunaga*

O Brasil tem uma das maiores taxas reais de juros do mundo. Um preço alto  demais para o desenvolvimento do país e sem benefício para a população  ou para a economia, já que a medida tem se mostrado ineficaz para  diminuir a inflação.  

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou, em  sua última reunião, a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, elevando a taxa  básica de juros da economia para 10,75%. É a segunda maior do mundo, perdendo apenas para a Rússia. Mas queremos mesmo pagar essa conta? 

Na ata que justifica o aumento da taxa, o Copom enfatiza que a medida e a  magnitude total do ciclo têm o objetivo de conter a inflação. Mas será que a  medida funciona ou só prejudica o crescimento econômico do país? Para alguns especialistas, a teoria de que a taxa de juros precisa ser alta  para combater a inflação está ultrapassada. Joseph Stiglitz, prêmio Nobel  de Economia em 2001, declarou em uma entrevista que a "política de  aumentar as taxas de juros reflete um diagnóstico errado da fonte da  inflação, a resposta errada que vai ter um efeito significativamente adverso  para a economia".  

O professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia da  Universidade de São Paulo (USP), escreveu,  em 2023, um artigo sobre como é errada a ideia de que aumentar a taxa de  juros freia a inflação: "Após a crise financeira de 2008, ficou claro que essa  teoria não funcionava, e a grande maioria dos países a abandonou. Hoje no  mundo há diversos países que enfrentam altíssimas taxas de inflação, no  entanto são raros os que usam uma taxa de juros equivalente à do Brasil". 

O princípio utilizado pelo Copom, que define a Selic, é relativamente  simples. Se a taxa está alta, os empréstimos diminuem, o consumo é freado  e a inflação também. Mas não é o que estamos vivendo. Mesmo com uma  das maiores taxas de juros real do mundo, a inflação no Brasil continua alta. Isso até poderia ser visto como positivo para um fundo de pensão como a  Previ. Se, no passado, títulos como NTN-B pagavam cerca de 3%, agora  rendem taxas parecidas com o atuarial, chegando a 6% além da inflação.  Ou seja, a remuneração dos títulos é igual, e até supera, o retorno mínimo  necessário para o cumprimento das obrigações previdenciárias. 

O cenário de alta na taxa de juros permite aos fundos de pensões intensificar o trabalho de imunização de seu passivo para proporcionar mais  segurança para os investimentos, principalmente em planos de benefícios  maduros com a maior parte dos associados recebendo aposentadoria ou  pensão.  

Mas para seguir esse caminho, há um preço alto a ser pago. Os fundos de  pensões investem prioritariamente no mercado brasileiro. De todos os  ativos, um pequeno percentual está no exterior. Ainda mais importante: o  propósito da Previ também está aqui, no Brasil. A razão da nossa existência  é pagar benefícios para 200 mil associados — no ano passado, foram pagos  mais de R$ 16 bilhões em benefícios. Queremos cuidar do futuro dessas  pessoas. Como fazer esse trabalho investindo em dívidas do governo, em  vez de escolher pelo desenvolvimento do país? 

As consequências do aumento da taxa são pesadas para o Brasil. Quando a  Selic sobe, os juros pagos pelo governo sobre sua própria dívida também  aumentam. Com juros mais altos, o custo de rolar a dívida fica mais caro,  pressionando o orçamento público. O desembolso do Estado para o  pagamento dos juros é de R$ 28 bilhões por ano.  

Esse dispêndio aumenta o deficit fiscal. Investimentos que poderiam ser  feitos em áreas como saúde, educação e infraestrutura acabam sendo  destinados ao pagamento de juros. Com mais recursos sendo direcionados  para o pagamento de juros, há menos espaço para aumentar gastos ou  reduzir impostos, o que pode ser necessário em momentos de  desaceleração econômica. 

A taxa de juros alta tira o apelo de desempenho de qualquer tipo de  investimento com um certo grau de risco. Uma empresa que queira investir  nela mesma, prefere comprar títulos que pagam taxas maiores. Empreendedores desistem de começar. O mesmo acontece com as ações  na bolsa, que deixam de ser compradas pelos investidores, o que pode fazê-las diminuir de preço e afetar o valor das principais empresas do país.  

Além disso, com o aumento da taxa os empréstimos ficam inviáveis para  qualquer empresa aumentar a sua produção. Em grandes conglomerados,  o financiamento que antes era buscado no próprio Brasil passa a ser  procurado no exterior. Ou seja: com o aumento da taxa Selic o desemprego  tende a aumentar.  

Uma conjuntura de diminuição da taxa de juros beneficia não apenas a Previ, mas a sociedade como um todo.Temos ativos em diversos  segmentos e sabemos da nossa capacidade de rentabilizar esses investimentos tanto em tempos de bonança quanto de tempestade. Mas  preferimos a bonança. Afinal, sabemos que se a economia cresce, quem  investe no país cresce junto. E é isso o que a gente quer.

Presidente da Previ*

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postado em 17/10/2024 06:00
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