Longevidade

A urgência de uma nova longevidade

É hora de agir para garantir que todos os brasileiros possam envelhecer e envelhecer bem, com direito a uma cidadania plena

 Idosos que reagiram melhor aos testes do estudo apresentaram maior longevidade do que os outros -  (crédito:  Arquivo Pessoal)
Idosos que reagiram melhor aos testes do estudo apresentaram maior longevidade do que os outros - (crédito: Arquivo Pessoal)

» Marília Duque, Pesquisadora brasileira do projeto Anthropology of Smartphones and Smart Ageing da University College London, colíder de Nova Longevidade na Ashoka

» Maria Clara Pinheiro, Colíder da iniciativa global da Ashoka em Nova Longevidade

Um país em que todas as pessoas possam envelhecer e com dignidade, contribuindo com suas famílias, comunidades e territórios. Esse é o projeto de futuro que mobiliza todo um ecossistema engajado em repensar e transformar a longevidade no Brasil. Essa nova longevidade depende do enfrentamento de problemas estruturais e investimento em políticas públicas pensadas para o envelhecimento e voltadas para educação, geração de renda, saúde, infraestrutura e participação cidadã. É o que apontou o Mapeamento do ecossistema de inovação social em longevidade, realizado pelo Lab Nova Longevidade em uma colaboração entre Ashoka, Instituto Beja e Itaú Viver Mais. 

A educação, por exemplo, aparece no mapeamento como uma das principais barreiras para uma sociedade longeva e equitativa. A educação formal de qualidade e as oportunidades para aprendizado ao longo da vida estão relacionadas e devem ser priorizadas para garantir que todas as gerações tenham as ferramentas necessárias para se manterem saudáveis, produtivas e participando da sociedade.

Em 2022, 16% da população brasileira com 60 anos ou mais era analfabeta. A maior concentração de analfabetos estava na região Nordeste (11,7%) e a menor, no Sudeste (2,9%), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua — Educação). Propostas para superar essa barreira incluem desde a implementação curricular do tema do envelhecimento (já prevista pelo Estatuto da Pessoa Idosa) para uma educação para a longevidade até a sensibilização e a qualificação de profissionais de saúde para uma melhor interface com a população em acelerado envelhecimento.

O idadismo, preconceito contra idade, emerge como outra importante barreira. Ele limita as oportunidades de geração de renda e a inclusão e permanência da população idosa no mercado de trabalho, além de reduzir sua representatividade política e protagonismo na sociedade. Estudo do McKinsey Health Institute estima uma oportunidade de incremento de 4,7% no Produto Interno Bruto (PIB) anual se brasileiros com 55 anos ou mais que querem trabalhar, mas não estão empregados fossem incentivados a reingressar na força de trabalho. Além de sua manifestação nas esferas cultural, organizacional e interpessoal, o idadismo pode ser internalizado (autoidadismo), impedindo o envolvimento ativo de pessoas idosas em atividades educacionais e comunitárias.

E uma terceira barreira, não menos desafiadora, é a inclusão digital. A falta de letramento digital limita o acesso de pessoas idosas à informação, a serviços públicos essenciais, como saúde, e a oportunidades para aprendizado e requalificação profissional. No Brasil, 58% da população com 60 anos ou mais acessa a internet, sendo que 43% da população analfabeta ou com educação básica acessa a internet contra 99% entre os brasileiros com ensino superior, de acordo com o  TIC Domicílios 2023. 

Por último, uma das lições mais importantes extraídas do mapeamento foi a necessidade de construir uma nova narrativa sobre o envelhecimento. Essa narrativa deve reconhecer que todas as pessoas, independentemente da idade, são capazes de contribuir para a sociedade. Para isso, é preciso criar indicadores que mensuram o impacto dessas contribuições, valorizando seus efeitos positivos para a saúde, a economia e o bem-estar social. Esses indicadores serão fundamentais para fomentar o diálogo entre setores e embasar políticas públicas transformadoras.

As propostas de melhoria para o cenário atual do envelhecimento no Brasil são claras: é necessário combater o idadismo, investir em educação continuada e inclusão digital, criar políticas públicas robustas e, acima de tudo, mudar a maneira como enxergamos o papel das pessoas idosas na sociedade. É hora de agir para garantir que todos os brasileiros possam envelhecer e envelhecer bem, com direito a uma cidadania plena, na qual todas as gerações contribuam e se reconheçam como partes de um projeto de futuro.

 

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postado em 14/10/2024 06:00
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