Cidades praticamente arrasadas, transformadas em montes de entulhos e escombros. Famílias enlutadas, algumas choram as mortes de até 40 parentes. Segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, 41 mil pessoas tiveram suas vidas ceifadas pelas bombas e pelos combates — é como se 1,8% da população do enclave palestino tivesse deixado de existir em um prazo de um ano. Para vingar 1.100 assassinatos (bárbaros, horrendos e cruéis), Israel matou 40 vezes mais. Eu me pergunto se uma ação desse tipo não seria tão condenável quanto o que ocorreu em 7 de outubro de 2023 no chamado cinturão de Gaza, as comunidades judaicas estabelecidas no entorno da fronteira com o território palestino. Qual a reserva moral que o premiê Benjamin Netanyahu tem para dizimar os moradores de Gaza? Em qual justificativa se escora a operação militar? Eliminar o grupo terrorista Hamas? Como explicar tantas mortes de civis? "Danos colaterais"?
As imagens que chegam da Faixa de Gaza são tão dantescas quanto aquelas produzidas pelo 7 de outubro de 2023. Uma menina tem o que eram as duas pernas enfaixadas na altura da coxa. Um pai não contém o desespero e se debruça sobre o corpo inerte do filho. Um menino de pouco mais de 2 anos deitado no chão do hospital. O rosto todo ferido, sem uma perna e com um braço enfaixado. Não, não é um terrorista do Hamas ou da Jihad Islâmica. É apenas uma criança. Será que Netanyahu e seus assessores não percebem que tanto sofrimento e tanta dor apenas alimentam o ódio, fortalecem o Hamas e deixam Israel à mercê do terrorismo? Será que é tão difícil constatar que violência apenas gera mais violência? Se a intenção era acabar com o Hamas, que os israelenses fizessem operações de inteligência pontuais e infiltrações para cometer assassinatos seletivos. Que poupassem os civis.
O fim desse ciclo de ódio, rancor e vingança está no bom senso e na disposição de assinar um acordo de paz que reconheça a Palestina como um Estado independente e soberano, com Jerusalém Oriental como capital. O governo de Israel precisa entender que a paz exige difíceis concessões. Abrir mão de posições teoricamente inconciliáveis é a solução para o Oriente Médio. O desmantelamento de todos os assentamentos judaicos construídos na Cisjordânia ocupada é premissa básica para a criação da Palestina. Caso os palestinos consigam um Estado nesses moldes, a luta e a "resistência" do Hamas deixarão de ter razão de existir.
Assim como a ameaça do movimento xiita Hezbollah, que declara Israel inimigo principalmente pela causa palestina. Em nome de tantos mortos — israelenses e palestinos — em décadas de guerra brutal e insana, as lideranças dos povos judeu e árabe têm que aceitar que é hora de um basta no derramamento de sangue.
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