Opinião

As palavras falham um ano após o massacre de 7 de outubro

Nada pode transmitir o que aconteceu em 7 de outubro para aqueles que não estavam lá de fato. Talvez, somente as vítimas, os sobreviventes e as testemunhas possam dar uma ideia dos horrores vividos naquele dia

Soldados israelenses visitam memorial no local da festa rave atacada pelo Hamas, no kibbutz Re'im -  (crédito: Gil Cohen-Magen/AFP)
Soldados israelenses visitam memorial no local da festa rave atacada pelo Hamas, no kibbutz Re'im - (crédito: Gil Cohen-Magen/AFP)

Rafael Erdreich — Cônsul geral de Israel em São Paulo

As palavras falham. Um ano se passou desde o massacre de 7 de outubro. Inúmeros artigos foram escritos, reportagens foram ao ar, testemunhas foram entrevistadas e, ainda assim, não há palavras que realmente capturem os horrores daquele dia.

Quando terroristas fortemente armados invadem pequenas comunidades, indo de porta em porta para torturar, mutilar, assassinar e queimar vivos civis inocentes, que adjetivos poderiam descrever esses atos? Quando mulheres e homens jovens são perseguidos por horas em um festival de música apenas para serem baleados, estuprados e feitos reféns, existe um termo preciso para essa depravação? Quando crianças pequenas e idosos são feitos reféns, arrastados para um destino inimaginável nos túneis terroristas do Hamas, existe vocabulário para expressar essa desumanidade? 

As palavras falham. Os números podem ser mais claros. No início da manhã de 7 de outubro de 2023, aproximadamente 6 mil terroristas do Hamas e seus cúmplices entraram no sul de Israel. Durante um tumulto brutal, quase 1,2 mil pessoas foram massacradas — 364 delas no festival de música Nova —  e 251 foram feitas reféns. 

Os números não podem quantificar os danos causados diretamente às pessoas afetadas. É possível contar os órfãos criados naquele dia, mas não a profundidade de sua dor. A quantidade de cônjuges, parceiros de vida e jovens amantes eternamente separados pode ser contada, mas não a extensão de sua solidão. Uma lista de pais enlutados pode ser feita, mas a agonia que eles suportarão pelo resto de suas vidas é imensurável. 

Os números falham. As imagens podem oferecer um testemunho autêntico. Fotos e vídeos, muitas vezes tirados pelos próprios terroristas, criaram alguns dos relatos mais horríveis e desoladores do massacre. Muitas famílias souberam do destino de um ente querido por meio dessas imagens ou ficaram com mensagens de texto e gravações que seus filhos, pais e irmãos enviaram quando estavam prestes a morrer.

No passado, Israel não distribuía imagens gráficas de vítimas de terrorismo por respeito aos mortos, mas teve que mudar sua política após o 7 de outubro. Foi uma decisão difícil, mas necessária diante de um esforço conjunto para negar até mesmo os fatos básicos sobre a carnificina ocorrida naquele dia.

A negação do massacre é um componente integral da campanha para minimizar o perigo que o Hamas e seus aliados representam para o povo de Israel. Essa ofensiva política, legal e cognitiva, cujo objetivo final é negar a Israel o direito de se defender, também contribuiu para a onda de antissemitismo que, de forma chocante, varreu grande parte do mundo logo após o ataque do Hamas.

O 7 de outubro não terminou no dia 7 de outubro. O pesadelo continua minuto após minuto, dia após dia interminável para as 101 mulheres, homens e crianças ainda mantidos como reféns em Gaza em condições horríveis. O tormento de suas famílias — agravado pelas evidências de abusos cruéis e pela recente execução de seis reféns — é insondável.

Para outros israelenses, o 7 de outubro continua, incluindo aqueles que se recuperam de seus ferimentos e as dezenas de milhares de pessoas que esperam para retornar às suas casas danificadas e atingidas, tanto no sul quanto no norte de Israel. Os corações de todo o país sangram toda vez que a notícia de outro soldado morto ou refém assassinado é divulgada.

O ataque a Israel não só não terminou naquele dia, como também se expandiu. Enquanto o Hamas continuava a disparar contra o sul de Israel e as principais cidades, o Irã e seus representantes se juntaram a ele, começando em 8 de outubro, quando o Hezbollah lançou o primeiro de mais de 9,3 mil foguetes e mísseis contra Israel. Esses atos contínuos de agressão prejudicaram a estabilidade em todo o Oriente Médio.

Essa guerra nunca deveria ter acontecido. Depois que Israel se retirou da Faixa de Gaza em 2005, ela deveria ter se tornado um território próspero. Em vez disso, o Hamas decidiu transformar Gaza em uma base para atacar Israel, com o objetivo de destruir o Estado judeu e substituí-lo por um califado. 

Além disso, as hostilidades poderiam cessar imediatamente, mas o Hamas se recusa a depor as armas e libertar os reféns, o que salvaria vidas de ambos os lados. Guiado pelo extremismo religioso, o Hamas prometeu repetir o massacre várias vezes, enquanto recentemente foi revelado que o Hezbollah estava planejando um ataque no estilo do 7 de outubro nas comunidades do norte de Israel. 

As palavras falham. Os números falham. As imagens falham. Mas uma coisa não vai falhar nem vacilar: a determinação de Israel em evitar que as atrocidades do Hamas se repitam. Nada pode transmitir o que aconteceu em 7 de outubro para aqueles que não estavam lá de fato. Talvez, somente as vítimas, os sobreviventes e as testemunhas possam dar uma ideia dos horrores vividos naquele dia. 

"Essas árvores.... Eu vi meninas amarradas com as mãos para trás em cada árvore aqui.... Mais de 30 meninas foram assassinadas e estupradas aqui." Eis o depoimento de um socorrista, descrevendo o que descobriu perto do festival Nova no documentário Screams before silence (Gritos antes do silêncio), de Sheryl Sandberg.

Quanto ao restante de nós, é importante relembrar o dia 7 de outubro defendendo a verdade, homenageando as vítimas, os heróis e os sobreviventes e, o mais importante, lutando pela libertação dos 101 reféns ainda mantidos pelo Hamas.

 

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postado em 08/10/2024 06:00
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