ELEIÇÕES 2024

Análise: quando a agressão substitui o debate na campanha eleitoral

Em 2024, a violência física entrou no palco principal: os debates televisionados. Os ataques verbais, que já eram símbolos da baixa qualidade da discussão de propostas, deram lugar às agressões físicas, que não eram comuns e passaram a se tornar frequentes

A nove dias do primeiro turno das eleições municipais, em que 155.912.680 brasileiros estão aptos a comparecer às urnas e escolher representantes para prefeitos e vereadores, mais uma vez, a radicalização dá o tom das campanhas país afora. No entanto, em 2024, a violência física entrou no palco principal: os debates televisionados. Os ataques verbais, que já eram símbolos da baixa qualidade da discussão de propostas, deram lugar às agressões físicas, que não eram comuns e passaram a se tornar frequentes.

Para efeito de contextualização, é importante sinalizar que as campanhas eleitorais no Brasil sempre foram caracterizadas por discursos acalorados e confrontos verbais. Mas episódios recentes, como a cabeçada do prefeito de Teresina em um adversário, durante um debate em agosto; ou a cadeirada do apresentador José Luiz Datena no ex-coach Pablo Marçal, há menos de duas semanas; ou as cenas de pugilato de um assessor do mesmo Marçal no marqueteiro de Ricardo Nunes, são exemplos do novo nível de radicalização. É a mais pura personificação do antagonismo político. O adversário deixa de ser apenas um oponente para se tornar inimigo.

Há uma corrente cada vez maior na ciência política defensora da tese de que a intensificação da violência nas campanhas eleitorais está diretamente ligada ao maior engajamento nas redes sociais. Em troca de likes, compartilhamentos ou comentários, candidatos fazem postagens cada vez mais agressivas, repletas de sensacionalismo ou fake news. A lógica das redes sociais favorece o conteúdo extremo, empurrando os atores políticos a uma corrida desenfreada por visibilidade a qualquer custo, muitas vezes, às custas do próprio debate democrático.

Se por um lado essa agressividade agrada ao público mais fiel do candidato, de uma forma geral, só serve para distanciar o eleitor médio do processo político, como mostram as mais recentes pesquisas de opinião, em que o cidadão está cada vez mais descrente com a classe política. Sem a discussão de ideias e propostas para buscar soluções para os problemas reais das cidades, das unidades da Federação e do país, o foco desloca-se para os confrontos, criando uma atmosfera de desilusão e desconfiança no sistema eleitoral.

Sou partidário da tese de que a democracia solidifica-se na base do diálogo, do convencimento, do poder de persuasão. A violência, por sua vez, é uma marca das ditaduras. Aceitar os argumentos contrários, sem xingamentos ou ataques, é o dever de todo cidadão e de todo candidato. O Brasil não pode se permitir normalizar a violência no dia a dia da política. Em tempos de radicalismo, o maior ato de resistência democrática é o exercício da cidadania consciente e pacífica.

 

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