O mundo assiste, nos últimos dias, a uma nova escalada de tensão no Oriente Médio. Em dois dias, mais de 500 pessoas morreram, sendo 50 menores de idade, e cerca de 1,8 mil ficaram feridas em bombardeios de aviões israelenses no Líbano. A medida se trata de uma nova ofensiva contra o Hezbollah, movimento xiita que tem ramificação na política interna libanesa e também na geopolítica, sobretudo por meio do seu braço militar.
Os ataques de Israel são mais uma resposta da nação judaica ao 7 de outubro do ano passado. Para além da ofensiva do Hamas na Faixa de Gaza, aquele dia ficou marcado por bombardeios feitos pelo Hezbollah em territórios próximos à fronteira de Israel com o Líbano. Devendo uma resposta às milhares de famílias que foram evacuadas da região por conta dessas agressões aéreas, Jerusalém contragolpeou nesta última semana.
Dado o contexto, acerta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando, em seu discurso feito, ontem, na abertura da 79ª Conferência das Nações Unidas, pede, mais uma vez, paz no Oriente Médio. Por um lado, o chefe da União cumpriu com seu papel de líder mundial ao ressaltar sua desaprovação contra a "ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes" em outubro de 2023.
Por outro, acertou ainda mais ao reprovar a resposta israelense a esses ataques, classificando-a como "punição coletiva de todo o povo palestino" e direito de defesa que se transformou em "direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo".
Vale lembrar que a região sul do Líbano, onde o Hezbollah controla boa parte dos territórios xiitas, está lotada de brasileiros. É verdade que Lula não citou a presença de cidadãos sob sua responsabilidade no discurso da ONU, mas o espaço na conferência é aberto para uma discussão ampla, mais voltada à geopolítica do que aos assuntos de interesse nacional.
Em 2006, quando outra ofensiva israelense aconteceu no Líbano, o Itamaraty fez um grande esforço para resgatar cerca de 800 brasileiros que viviam nos arredores de Beirute. Lula mostrou ontem, em seu discurso, que o seu governo se colocará novamente à disposição de brasileiros em risco, ainda que não tenha falado diretamente sobre o assunto.
É bem verdade que o presidente não fez nada além de sua obrigação ao se posicionar contrariamente ao conflito em Beirute. Ainda assim, em momentos como o atual, nos quais as tensões geopolíticas aumentam em diferentes partes do mundo e levam a evitáveis guerras, falar o óbvio traz alguma diferença para o jogo da geopolítica.
É preciso, agora, confirmar com ações aquilo que se diz no microfone. É inegociável que o Brasil tenha posicionamentos firmes sempre que preciso, inclusive sobre questões que envolvem a América Latina, como a eleição de Nicolás Maduro na Venezuela, alcançada com enormes indícios de fraude.
Lula não citou os conflitos políticos atualmente em curso na América Latina. Não só ignorou a situação venezuelana, como também não tomou posição sobre a Argentina, que, sob o comando de Javier Millei, tem passado por um processo de ataques à democracia parecido com aquele tão denunciado pelo atual presidente no Brasil. Suas falas sobre o continente americano se limitaram à luta contra a fome e à estagnação econômica regional, ainda que as tensões políticas nos países vizinhos ao nosso tenham repercussões muito maiores para as famílias brasileiras.