Crise climática

Visão do Correio: Incêndios ameaçam nossos patrimônios

No Distrito Federal, no início deste mês, o fogo queimou quase a metade da Floresta Nacional de Brasília (Flona)

O fogo não dá trégua, as labaredas se alastram por grande parte do território brasileiro, e, junto à destruição já causada a tesouros naturais como Amazônia, Pantanal e Cerrado, há ameaças a joias do patrimônio nacional. Neste início de primavera, com expectativa para as chuvas, ainda estão quentes na memória as cenas dos incêndios que consumiram quilômetros de áreas verdes, chegando a colocar 60% do território nacional sob risco de queimada.

Nesta temporada, a vegetação seca vira combustível certo. E as unidades de conservação e extensas matas no entorno das capitais e cidades de maior porte se tornam presa fácil do fogo. As chamas consumiram centenas de hectares da vegetação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Caraça, em Minas Gerais, com severos danos não só à vegetação, que abriga espécies em risco, como à rica fauna local, na qual se destaca o lobo-guará. A situação no complexo histórico, turístico, paisagístico e religioso do século 18, atrativo para gente do mundo inteiro, alarmou hóspedes e criou dificuldades no acesso ao santuário. 

No Distrito Federal, no início deste mês, o fogo queimou quase a metade da Floresta Nacional de Brasília (Flona). A área de 5.640 hectares foi criada para funcionar como um cinturão verde para garantir a preservação de mananciais de água e do Parque Nacional de Brasília e é um local de turismo e prática de exercícios para a população. No Pantanal, foram verificados prejuízos de bilhões para a economia, incluindo a pecuária de corte, o setor sucroenergético e a silvicultura. Os impactos no agro se somam aos danos à infraestrutura das propriedades.

Durante a longa estiagem, o combate ao crescimento contínuo das queimadas que colocam em risco grande parte do país exige controle, pulso firme, determinação e medidas para impedir mais destruição e que não se repitam de forma tão avassaladora na próxima estação seca. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, denuncia a existência de terrorismo climático, com pessoas se aproveitando das mudanças climáticas para agravar o problema. Falta agora dar os nomes.

Com as chamas consumindo há meses os biomas, o governo federal garantiu a liberação, via medida provisória, de um crédito extraordinário de R$ 514 milhões. Enquanto isso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reforça as medidas de contenção com mais R$ 400 milhões. É de se esperar que, juntamente com os recursos, haja uma campanha de conscientização para se evitarem novas agressões ao meio ambiente. 

Em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, as monjas do Mosteiro de Macaúbas, construção de 310 anos, redobraram as preces para afastar a tenebrosa proximidade do fogo. E passam das palavras à obra. As religiosas mantêm sempre preservado o aceiro em volta da construção de 11,5 mil metros quadrados. Que as irmãs de Macaúbas sirvam de exemplo na defesa do patrimônio natural e histórico: sempre de olho e atentas para proteger as matas do fogo cruzado. Na primavera que começou ontem, o Brasil está, sem exagero, entre a cruz e a fogueira. Haja prece!

 


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