Lá vou eu colocar as minhas mãos no fogo: estreante do dia contra o Atlético-GO na Neo Química Arena, às 16h, pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro, Memphis Depay vai brilhar no Brasil porque o Corinthians tem o técnico certo, no lugar correto, na hora exata do investimento irresponsável do clube mais endividado do país: R$ 2,3 bilhões. Gerenciar figurões como o atacante holandês não é para amadores.
O atacante testemunhou a capacidade de Ramón Díaz na vitória por 3 x 1 contra o Juventude na conquista da vaga para a semifinal da Copa do Brasil, na derrota por 2 x 1 para o Botafogo no Brasileirão e na vitória sobre o Fortaleza na Sul-Americana. O ex-jogador e treinador argentino está acostumado a frequentar serpentários desde cedo no futebol. Tem soro antiofídico na veia.
Jogadores de videogame como o holandês de 30 anos gostam de saber antecipadamente quem assumirá o joystick para manipulá-los. Vira um problemão quando falta currículo. Isso Ramón Diaz tem e conta com a ajuda do filho — e auxiliar — Emiliano Díaz no upgrade.
Ramón Díaz lida com jogadores marrentos desde os tempos de meia-atacante da base da seleção da Argentina. Em 1979, ele conquistou o título do Mundial Sub-20 ao lado de um gênio indomável: Maradona. Ambos comandados por César Luis Menotti (1938-2024). Quando virou técnico, Díaz liderou com êxito Ayala, Sorin, Francescoli, Gallardo, Ortega e Crespo no bicampeonato do River Plate na Libertadores de 1996.
Em um dos trabalhos recentes na Arábia Saudita, Ramón Díaz domou os egos de Cuéllar, Carrillo, recém-contratado pelo Corinthians, Vietto e Ighalo na campanha do vice do Al Hilal no Mundial de Clubes da Fifa em 2022. Manteve a política da boa vizinhança com o meia francês Dimitri Payet no Vasco.
Memphis Depay conhece a escola argentina de técnicos. Acaba de trabalhar com Diego Simeone no Atlético de Madrid. Relacionou-se com treinadores de personalidade tão difícil quanto a dele: Louis van Gaal, Dick Advocaat, José Mourinho e Xavi Hernández, por exemplo. De estilo mais dócil, o brasileiro Sylvinho também comandou o craque holandês na passagem pelo Lyon.
Para não dizer que só falei das quatro linhas, conversei com o economista e sócio da consultoria Convocados, Cesar Grafietti, sobre o investimento arriscado do endividado Corinthians (R$ 2,3 bilhões) em Depay. Encerro com as palavras dele:
"Completamente sem sentido e, de certa forma, irresponsável. Seja porque o dinheiro deveria ser usado para sanar problemas mais graves, como atrasos a outros clubes, seja porque a operação é a repetição de histórias que não deram certo, com o próprio Corinthians. E agora, envolvendo um parceiro que está no centro de uma investigação policial. E desrespeitosa com clubes para os quais deve. Mas é resultado de uma indústria que tolera comportamentos como esse, que acabam impactando negativamente a própria indústria."