Editorial

Visão do Correio: Educação, desafio a ser superado

A cada governo, a política educacional toma um rumo ou ignora os avanços das gestões anteriores, e, da mesma forma, os investimentos também flutuam

Desenvolver uma política de educaçãode qualidade sem distinção de classe social e econômica, livre de desníveis étnico-raciais e inclusiva, é um dos grandes desafios do Brasil. O tema, reconhecido como fundamental para o desenvolvimento de uma nação, tem importância oscilante. A cada governo, a política educacional toma um rumo ou ignora os avanços das gestões anteriores, e, da mesma forma, os investimentos também flutuam.

Entre 2015 e 2021, os investimentos públicos em educação foram reduzidos de 11,2% para 10,6%, conforme o relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado terça-feira última. De acordo com os dados de 2021, o país ficou na segunda posição, entre os 48 países avaliados. Em média, os países da OCDE aumentaram em 2% os gastos com educação. A redução do aporte financeiro não ocorreu só no Brasil (2,5% de queda) e na Argentina (de 5,2%). O orçamento também encolheu no México (-2,4%), Letônia (-1,7%), Canadá (-0,6%), Costa Rica (-0,3%) e Finlândia (-0,1%).

O relatório Education at a Glance (educação em foco), da OCDE, ressalta que o Brasil seguiu um roteiro inverso dos demais países filiados à organização, durante a pandemia. Em 2021, segundo ano da pandemia da covid-19, a maioria das escolas brasileiras permaneceram fechadas. As desigualdades sociais e econômicas, marcantes no perfil demográfico, impactam seriamente na educação pública, que enfrenta altos e baixos, dependendo da configuração dos sucessivos governos.

Na educação infantil (crianças até 5 anos), 90% da população nessa faixa está matriculada, enquanto nos países da OCDE, a média é de 96%. De um extremo ao outro, a escolaridade incompleta explica a situação de pobreza e de perda de oportunidades dos adultos. Entre os países da OCDE, o percentual de adultos entre 24 e 34 anos que não concluíram o ensino médico caiu de 17% para 14%, entre 2016 e 2023. No Brasil também houve uma retração ainda que não tenha alcançado a média dos membros da OCDE. O número de brasileiros em igual situação passou de 35%, em 2016, para 27%.

Os jovens entre 25 e 34 anos que não trabalham nem estudam — os nem-nem, são um gargalo preocupante. Eles somam quase 24% no Brasil, segundo o relatório da OCDE, um percentual acima do constatado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) da Educação, em 2022, e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado. Os nem-nem, em 2022, correspondiam a 20% (9,6 milhões, entre 15 e 29 anos, uma faixa etária diferente dos países da organização internacional. Necessidade de trabalhar (40,2%), gravidez precoce (22,4%), trabalho doméstico e cuidados com outras pessoas (10,3%) são as principais causas do abandono da escola.

Para os especialistas, essa realidade dos nem-nem está associada à qualidade do ensino básico — o Brasil até agora não saiu das últimas posições do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Eles entendem que é preciso aumentar a oferta de ensino integral. Nos países desenvolvidos,os alunos do ensino médio cursam também o ensino profissionalizante. No Brasil, só 10% dos alunos cursam o técnico, contra 68% na Finlândia e 49% na Alemanha.

Há vários modelos de política educacional que podem ser adaptados à realidade, sob orientação dos grandes mestres nacionais. O modelo adotado deve ser política de Estado, e não submisso a ideologias ou a interesses políticos. A educação é a principal alavanca para o desenvolvimento do país. 

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