O Brasil festejou, neste fim de semana, mais uma vitória no mundo dos esportes. Os atletas com deficiência trouxeram 89 medalhas — 25 de ouro, 26 de prata e 38 de bronze — nas Paralimpíadas de Paris 2024. Um resultado inédito que levou o país ao top-5. Mais uma vez, uma atleta negra teve um papel importante para tornar real o sonho de todos. A carioca Tayana Medeiros conquistou o ouro, ao bater o recorde de levantar 156kg, na categoria de até 86 quilos do halterofilismo.
A delegação brasileira contou com 255 esportistas, formada por representantes de todos os estados do país. Das 27 unidades da Federação, 19 conquistaram medalhas. Otimista e entusiasmado, o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, por meio de sua assessoria de comunicação, declarou que "o Brasil, agora, precisa só olhar para frente, porque o caminho da evolução e do desenvolvimento está traçado. O futuro é promissor".
Nem tudo depende da CPB. O maior centro de treinamento (CT) dos atletas com deficiência está em São Paulo. As instalações são de primeira linha (indoor e outdoor) que permitem treinamentos, competições e intercâmbios de atletas em 20 modalidades paralímpicas.
Em outros estados, também há centros de treinamento. Na capital da República, o CT, inaugurado em 2016, é visto como um dos centros de excelência no Brasil e na América Latina, e um dos melhores do mundo, com 95 mil metros quadrados de área construída. Em Minas Gerais, o CT paralímpico de alto rendimento funciona na Universidade Federal (UFMG), que atua na formação de atletas, de recursos humanos e desenvolvimento de pesquisa, com financiamento do governo federal.
Na comparação com a repercussão das Olimpíadas de Paris, as paralímpiadas não têm grande espaço nos veículos de comunicação. Os atletas não exibiam nas camisetas publicidade de empresas do setor privado, que seriam suas patrocinadoras. Além disso, os meios eletrônicos também não exaltam as vitórias conquistadas pelos participantes. De modo geral, a reclamação de vários atletas por mais apoio das entidades públicas e privadas faz sentido. Eles entendem que essa ausência de amparo tem a ver com preconceito social em relação aos deficientes — um comportamento bem próximo ao capacitismo.
Os desafios colocados na trajetória dos atletas paralímpicos não diferem muito dos que são de alto rendimento. Entre eles, poucas oportunidades, dificuldade de acesso à alta tecnologia do esporte, visibilidade na mídia e patrocínio. As lesões esportivas também preocupam e muitos antevêem que enfrentarão problemas quando mais velhos e sem aposentadoria. Como sobreviver?
A indagação precisa de uma resposta do poder público — Executivo e Legislativo — principalmente para os paralímpicos. Eles demandam políticas públicas mais efetivas e amparo do Estado. Não basta trazer medalhas ao país, o reconhecimento não pode se restringir a aplausos, mas em ações que garantam a todos qualidade de vida, quando não mais puderem viver do atletismo.