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Cortesia com chapéu alheio

Quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os números do desempenho da economia nacional, os técnicos descobriram perplexos que o Brasil tinha sido o segundo maior país em crescimento de seu produto interno bruto

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF — Jornalista

Especialistas, agências e institutos que se dedicam a fazer projeções sobre o desenvolvimento da economia brasileira continuam a errar muito. De novo, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os números do desempenho da economia nacional, os técnicos descobriram perplexos que o Brasil tinha sido o segundo maior país em crescimento de seu Produto Interno Bruto, perdeu apenas para o Peru, e empatou como potências do quilate de Arábia Saudita e Noruega. Os técnicos que fazem as profecias ficaram perplexos e não tiveram a humildade de vir a público e tentar explicar o que aconteceu. Este número resulta em crescimento anual próximo a 3%. As projeções eram inferiores a 2%. Um vexame. 

É a maior alta desde o quarto trimestre de 2020, quando a economia cresceu 3,7%, mas ainda em meio à recuperação, imediatamente após tombar por causa do início da pandemia da covid-19. O Brasil ficou na vice-liderança em ranking de PIB de 53 países. Os chamados especialistas previam avanço de 0,9% ante o primeiro trimestre, segundo a opinião média de 80 instituições de mercado consultadas. Tudo errado.

A indústria teve expansão de 1,8%. A construção civil avançou 3,5%, e a indústria de transformação teve alta de 1,8%. Houve queda de 4,4% nas indústrias extrativas, que reúnem atividades como mineração e extração de petróleo. A agropecuária, que puxou o PIB no ano passado, foi o único entre os grandes setores que recuou: queda de 2,3% no segundo trimestre. A seca que afeta plantações em vários estados no país foi uma das responsáveis pelo desempenho fraco, assim como as chuvas no Rio Grande do Sul. 

A verdade é que, desde 2020, as previsões de crescimento da economia têm subestimado a variação que viria a ocorrer de fato no PIB. A previsão de alta de 0,36% do PIB em 2022; o crescimento foi de 3%. Para 2023, previsão de 0,8%, alta de 2,9%. Para 2024, previsão de 1,5%, mas o PIB deve crescer mais de 2,5%. Difícil é saber se o erro de previsão está relacionado a erros de diagnóstico sobre o funcionamento da economia e do efeito de políticas econômicas. Parece, à primeira vista, assunto político.

No governo Lula 2 comecei a prestar atenção nos prognósticos dos chamados especialistas porque o ministro de Comunicação do governo, Franklin Martins, costumava me alertar para os erros das previsões dos analistas financeiros. Eles fazem as previsões e vão corrigindo ao longo do ano de maneira que em dezembro suas profecias coincidam com os números oficiais. Mas nos últimos tempos eles têm errado muito mais, e de maneira mais ostensiva. É preciso desconfiar sempre.

Um amigo que trabalhou no Fundo Monetário Internacional costumava também reclamar das agências de classificação de risco. Na grande crise dos Estados Unidos, em 2008, elas erraram tudo, do começo ao fim. Não conseguiram se antecipar ao enorme problema dos recebíveis derivados de empréstimos habitacionais. A crítica originária do FMI é a de que o Fundo negocia com os governos, realiza mudanças na operação financeira dos países e, no meio dos entendimentos, as agências definem que o crédito de determinado país melhorou ou piorou. Atrapalha muito e normalmente não tem base sólida. O Brasil, por exemplo, não pode ter classificação inferior  à de alguns de seus vizinhos. No entanto, é assim.

Essas confusões e erros apenas demonstram que economia não é ciência exata. Seu resultado, depois de um ano de trabalho, depende de uma série de variáveis que vão desde seca ou chuva, vontade de empreender, facilidade de investir, problemas com o governo de esquerda, dificuldades no diálogo com deputados e senadores, problemas pessoais que influenciam na política, tudo isso resulta em um número. É muito difícil acertar com exatidão o resultado. Tanto aqui quanto no exterior, as previsões na área da economia são resultam da vontade política. Não há isenção, nem nos cálculos dos chamados especialistas. Eles também têm preferências e, não esquecer, negócios. 

A discussão, neste final de ano, está em torno da redução das taxas de desemprego no país. O número é ótimo dentro das possibilidades nacionais, algo perto de 6,8%, (já foi mais de dez por cento ao tempo da presidente Dilma Rousseff). Menor desemprego sugere maior pressão sobre preços, ou seja, inflação, porque os salários tendem a subir uma vez que pode haver escassez de mão de obra em setores fundamentais. Há o outro lado desta situação, virá, ou viria, pelo lado do aumento das taxas de juros. O governo, discretamente, mandou projeto aumentando impostos. A voracidade fiscal é insaciável. Está na hora de o presidente Lula começar a cortar suas imensas despesas. Ele está fazendo cortesia eleitoral, pensando em 2026, com o chapéu dos contribuintes.

 

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