ISAAC ROITMAN — Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), onde é pesquisador do Núcleo de Estudos do Futuro e FERNANDO OLIVEIRA PAULINO — Professor da UnB e presidente da Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação (Alaic)
A partir de 1985, docentes, técnicos(as)administrativos(as) e estudantes têm debatido e contribuído diretamente com os rumos da gestão da Universidade de Brasília (UnB) por meio do processo de consulta para a definição da Reitoria. Desde a redemocratização, houve 11 processos eleitorais para a definição do(a) reitor(a) e do(a) vice-reitor(a). O mais recente deles terminou ontem, 5 de setembro, e teve uma expressiva vitória da chapa composta por Rozana Naves (reitora) e Márcio Muniz (vice-reitor) nos dois turnos da Consulta à Comunidade Acadêmica, que, certamente, a exemplo das outras eleições, será referendada pelo Conselho Universitário da UnB.
É importante reconhecer a inspiração, a motivação e a energia das três professoras que se submeteram à consulta: Olgamir Amância Ferreira, Rozana Reigota Naves e Fátima Sousa. Igualmente, vale registrar o trabalho da reitora Márcia Abrahão de Moura e sua equipe na missão de manter a UnB entre as mais importantes do país. É importante levar em conta que, nos últimos oito anos, vivemos um momento muito difícil para a educação pública no Brasil, particularmente no ensino superior. Espera-se que não haja rompimento na prática historicamente desenvolvida, o que poderia dificultar a caminhada da UnB para as boas práticas nas normas de seu funcionamento e no planejamento para o futuro.
Os meses que antecederam à consulta foram palco de debates para o avanço da UnB como uma universidade necessária, concebida pelos seus idealizadores, Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. Esses debates foram importantes pela mobilização de grupos de dentro e de fora da universidade para que a instituição tenha condições de realizar sua missão educativa. Nos próximos anos, certamente teremos avanços nos fluxos e procedimentos. Essa transformação é vital para o avanço e a qualidade do ensino, pesquisa e extensão na nossa universidade.
A UnB nessa nova gestão terá grandes desafios. Entre eles, frear a evasão de seus estudantes, alimentando as suas motivações e ampliando a assistência estudantil para garantir a permanência de estudantes de baixa renda na universidade. A cultura universitária de seus estudantes deverá ser estimulada por meio de disciplinas e eventos que sejam interdisciplinares. Será muito importante ampliar os espaços culturais e espaços de diálogos construtivos, como a recente iniciativa do Tribuna Livre pela Paz, uma parceria do Centro de Estudos Avançados Interdisciplinares (CEAM) com a União Planetária (UP). A valorização do segmento técnico-administrativo deve ser prioritária, tanto no plano de carreira quanto na atualização de seus salários, que não acompanham o custo de vida cotidiano. Situação semelhante acontece com os docentes ativos e aposentados.
A importância do papel da universidade e seu protagonismo na melhoria do ensino básico é fundamental para termos uma educação pública de qualidade para todas as crianças e jovens brasileiros. O próximo período de gestão deverá amplificar vínculos dentro e fora da comunidade universitária, com atividades científicas, culturais e esportivas realizadas com programação planejada, dialogada e bem estruturada.
Também merece destaque para o futuro da universidade a necessidade de mais integração entre as iniciativas ligadas à comunicação, à informação e à computação, estabelecendo mais acesso ao conhecimento e cooperação na gestão da informação, da memória e do conhecimento. Nesse caso, seria importante também ter a participação da Secretaria de Comunicação, da UnBTV, da Editora UnB e das bibliotecas dos quatro campi, bem como discutir ações colaborativas para integrar a rede da universidade com a malha social. Podemos utilizar para isso o site e outros canais da UnB como espaços de interação e promoção de medidas de divulgação científica e comunicação pública, atendendo ao que preconizam as leis da transparência e de acesso à informação.
Outro ponto importante para o futuro da UnB é a valorização do seu patrimônio material e imaterial, com manutenção da estrutura com ambientes adequados e, principalmente, com o envolvimento das pessoas em processos de execução e avaliação das ações.