A explosão simultânea de milhares de pagers no Líbano, na última terça-feira, surpreendeu o mundo. No dia seguinte, mais detonações foram registradas em walkie-talkie em novos ataques direcionados contra membros do Hezbollah não só no sul do Líbano, mas também em Beirute. Os dois episódios resultaram em 37 mortes e quase 3 mil feridos e acentuaram o clima de tensão do Oriente Médio.
Logo após os ataques, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, anunciou uma nova fase na guerra, que teve início ontem. Um bombardeio em um subúrbio de Beirute matou o comandante de operações militares do Hezbollah, Ibrahim Aqil. O pânico se estabeleceu entre os libaneses, que estão com medo de usar os celulares depois do ataque com características terroristas que o governo de Israel não assume.
Líbano não deseja a guerra, mas isso de nada adianta. Israel tem uma rara oportunidade de atacar o Hezbollah e seus estoques de mísseis guiados de precisão porque os sistemas de comunicação da milícia apoiada pelo Irã estão em colapso. Muitos comandantes do grupo foram feridos ou mortos nas explosões dos pagers e walkie-talkies.
O líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, disse, na quinta-feira, que Israel havia excedido "todos os limites, regras e linhas vermelhas". Afirmou ainda que os ataques transfronteiriços, como os 150 mísseis lançados contra o norte do território de Israel, continuarão enquanto não houver um cessar-fogo em Gaza. O Hezbollah está no seu pior momento desde a segunda guerra do Líbano, em 2006. Por essa razão, pode ser iminente uma nova invasão de Israel ao Líbano.
Os ataques aos sistemas de comunicação do Hezbollah foram planejados para fazer parte de uma operação maior e não apenas como recado de que a milícia é mais vulnerável do que se imaginava. Entretanto, o grupo tem aliados, como o Irã, paramilitares xiitas e os houthis do Iêmen. Uma guerra total no Líbano escalaria inevitavelmente o conflito no Oriente Médio.
Uma nova frente no Líbano interessaria principalmente ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para prolongar ainda mais o estado de guerra que vigora em seu país e impedir a realização de eleições, como deseja a maioria dos israelenses. Dois indícios de que uma invasão pode ser efetivada são o Departamento de Estado norte-americano pedir que seus cidadãos deixem o Líbano e Benjamin Netanyahu ter decidido, ontem, adiar uma viagem que faria aos Estados Unidos.
Com Gaza destruída, as operações militares de Israel contra o Hamas têm muitos efeitos colaterais, como a morte de crianças, mulheres e idosos inocentes, e a baixa resolutividade quanto ao resgate dos israelenses sequestrados no ataque de 7 de outubro. O desejo de retaliação deixou de ser uma unanimidade devido à implacável retaliação feita em Gaza, mas o resgate dos reféns é a grande prioridade da opinião pública israelense.
Na verdade, é preciso retomar as negociações de paz com resolutividade, por mais difíceis que sejam. A crise humanitária em Gaza é grave, e a crise política em Israel somente se aprofunda. Nada disso, porém, demove o primeiro-ministro israelense, que corre risco de ser preso, se deixar o governo, por causa das denúncias de corrupção. Netanyahu, porém, é um político experiente, que soube unir a direita israelense, e não pretende interromper a guerra, porque seria o fim do seu mandato.
A grande incógnita, agora, é o nível de intervenção do Irã, que financia o Hezbollah e o Hamas e prometeu atacar Israel depois que Ismail Haniyeh, líder máximo do Hamas, foi morto por uma bomba plantada pelo Mossad em Teerã. Os líderes xiitas iranianos anunciaram uma retaliação que, até agora, não houve. O risco de uma invasão do Líbano é a guerra entre o Irã e Israel.
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