Agenor Miranda Araújo Neto, o Cazuza, destacou-se como um dos nomes mais relevantes do BRock, inicialmente como vocalista da banda Barão Vermelho e, depois, em carreira solo. O movimento marcou de forma barulhenta e significativa a música popular brasileira na década de 1980.
Trinta e quatro anos após o falecimento do pop star carioca, a história dele acaba de chegar ao mercado editorial com Meu lance é poesia e Protegi teu nome por amor. São livros que trazem registros do acervo deixado por ele, selecionados pela mãe, Lucinha Araújo, e organizados por Ramon Nunes Mello. Ambos resultam de longa e cuidadosa pesquisa.
Lançadas pela editora WMF Martins Fontes, as obras com 320 e 568 páginas, respectivamente, revelam, por meio de manuscritos, poemas e fotos, facetas nunca expostas ao público em 32 anos de vida de Cazuza. Mostram, por exemplo, que o poeta do rock soube aproveitar o fato de ter usufruído da segurança proporcionada pela família.
O pai, João Araújo, à época era presidente da gravadora Som Livre — braço musical da TV Globo. Isso lhe permitia, ainda adolescente, conviver com grandes nomes da MPB, como Caetano Veloso, Ney Matogrosso e Elis Regina, e ser paparicado em diversos ambientes — do Baixo Leblon à praia de Ipanema.
Meu lance é poesia, coletânea luxuosa com 238 poemas, entre os quais 27 inéditos, traz as primeiras versões de Exagerado e Ideologia, entre outros clássicos. Os conhecidos versos "Paixão cruel desenfreada/ Te trago mil rosas roubadas" foram escritos, inicialmente, da seguinte forma: "Paixão cruel desenfreada/ Em Portugal te chamam fado".
Em Ideologia, estrofes inteiras foram alteradas. Onde se lia "Sr. Presidente/Me encara francamente/Chega de levantar pra me receber/Sra.dama da sociedade/Manda um convite para o último baile", mudou-se por completo.
Lucinha, em entrevista ao O Globo, revelou que o processo utilizado para reunir o material usado na criação das obras certamente não agradaria ao filho. Segundo ela, Cazuza jamais publicaria o que jogava fora. Mas, deixou claro, levar a público tais rascunhos é preservar um precioso legado.
Assisti a apresentações do poeta do rock em três oportunidades. A primeira, aqui em Brasília, no Drive In, em 1983, quando ele era vocalista do Barão Vermelho. Dois anos depois, estava em meio às 200 mil pessoas na edição histórica do Rock in Rio, quando ele saudou a retomada da democracia, após a ditadura militar, ao soltar a voz em Pro dia nascer feliz.
Por último, no mês de junho daquele ano, marquei presença no show em que a banda lotou o ginásio Nilson Nelson. Antes, no fim da manhã, ele me concedeu uma longa — e rara — entrevista. Gay assumido, em certo momento da conversa afirmou: "Eu tenho horror de gueto. Quero viver num mundo diferente, em que possa conviver igual com todo mundo".
O texto serviu de base para Um iconoclasta exagerado, título de um dos capítulos do Minha trilha sonora, livro que lancei, no fim de 2015, para comemorar 40 anos como repórter e colunista do Correio Braziliense.
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