Duas tentativas de assassinato em 64 dias. Donald Trump escapou da morte por um triz, em 13 de julho passado, quando a bala de um fuzil trespassou-lhe a orelha direita, de raspão, graças a uma leve inclinação da cabeça. No último domingo, o potencial atirador estava escondido entre os arbustos, a menos de 500m do candidato republicano. Não chegou a disparar. Os incidentes fizeram destas eleições norte-americanas uma das mais tensas da história. A adoração pelas armas e a polarização política, nos EUA, têm o potencial de provocar tragédias.
Trump tem sorte de estar vivo. Ao invés de defender o distensionamento, resolveu puxar a tesa corda da disputa eleitoral. Enquanto seus adversários imediatamente se puseram a condenar a tentativa de assassinato, o republicano acusou indiretamente o presidente Joe Biden e a candidata democrata Kamala Harris. Associou a "retórica comunista" ao novo atentado, ocorrido no último domingo, em seu campo de golfe privado, na cidade de West Palm Beach (Flórida).
O homem que propagou, entre quatro ventos, o boato de que imigrantes haitianos estariam comendo gatos e cães da cidade de Springfield (Ohio) se acha no direito de criticar a retórica de Kamala. Exemplo puro de insensatez e de mau-caratismo. No sábado, falei com haitianos que são alvos dos rumores. Estão inseguros e não escondem o medo da violência física.
Os atentados de 13 de julho e do último domingo devem ser condenados nos mais estritos termos. Assim como a disseminação de notícias falsas, com o propósito de energizar a base eleitoral. Tentativas de assassinato e fake news são ataques vis à democracia. Colocar uma bala no caminho de políticos ou semear mentiras equivalem a macular o sonho de uma nação construída sobre o respeito pelas liberdades individuais e pelas oportunidades.
Os próximos 51 dias serão marcados pelo nervosismo, por insultos vindos principalmente de Trump — que desistiu de novo debate com Kamala Harris — e por preocupações com a segurança dos candidatos. Os dois incidentes com o republicano também são um convite para que os EUA repensem sua adoração pelas armas e proíbam, de uma vez por todas, o acesso a fuzis.
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