EMERGÊNCIA CLIMÁTICA

Estamos sufocando: o que ainda falta entender?

Já não falta tanto tempo para tornarmos nosso ambiente insuportável. E seguimos na mesma toada da destruição

Sem a proteção ao meio ambiente, não há economia pulsante; não há PIB crescendo; não há saúde. Nem ar, nem água, nem vida. -  (crédito: MICHAEL DANTAS / AFP)
Sem a proteção ao meio ambiente, não há economia pulsante; não há PIB crescendo; não há saúde. Nem ar, nem água, nem vida. - (crédito: MICHAEL DANTAS / AFP)

O ar está rarefeito, cheio de fuligem. Névoa seca e densa; cheiro de fumaça por todo o canto; redemoinhos de fogo; florestas devastadas pelo incêndio criminoso; pessoas desabrigadas; animais mortos; pés queimados; indígenas expulsos dos seus territórios. Biomas e mananciais em grave risco. O que se esperava para daqui a décadas — caso não tomássemos providências imediatas — já está se materializando neste tempo-espaço. É aqui e agora.

Já não falta tanto tempo para tornarmos nosso ambiente insuportável. E seguimos na mesma toada da destruição. Estamos esperando o que para entender que esta é a maior emergência? É isso o que afeta a vida e o futuro do planeta — futuro não, presente! Sem a proteção ao meio ambiente, não há economia pulsante; não há PIB crescendo; não há saúde. Nem ar, nem água, nem vida.

Estou sem paciência para a politização/ polarização ridícula — aquela da linha: ‘olha aí o governo que você elegeu’ versus ‘veja aí a herança que o teu governo deixou’. O apagamento do tema meio ambiente vem de tanto tempo que não dá para contar. Cientistas têm feito alertas em série sobre as ameaças; ativistas fazem protestos; cúpulas internacionais não chegam a consensos; acordos são assinados e descumpridos. O adiamento da prioridade é sinal de novo apagamento. Ignorância é fogo que arde e queima.

A devastação parece contar com apoio de uma espécie que não nasce em árvore: o dinheiro. O poder econômico dá as mãos ao poder político — aliás, creio que isso é uma coisa só — para sacrificar a vida do planeta. Dos escritórios às mansões com ar-condicionado, brotam as ideias de destruição.

Os mapas pintados de pontos laranjas, mostrando a dimensão das queimadas, e as imensas linhas de fogo alto ficam na nossa memória e entristecem. Assim como as terríveis enchentes e enxurradas que, ano a ano, pioram e levam vidas e histórias de vidas. Lembro-me dos tempos em que a seca no Nordeste produzia imagens também da fome e do desespero das famílias sem água e sem comida, enquanto larápios roubavam dinheiro público. Nada aprendemos? Continuaremos sem nada aprender?

Não falta informação, faltam boa vontade, conscientização, decência e vergonha na cara. Um planeta tão rico e diverso inerte à emergência climática, refém do desmatamento, assistindo pacificamente à devastação em escala. O que podemos fazer? Eu me pergunto — e você? Eu tenho me aproximado cada vez mais da natureza e isso é um bálsamo para o meu dia a dia. Caminhadas pelo Cerrado; canoa no lago.

Sabemos o básico para coletivamente mudar essa trajetória de destruição. Individualmente, podemos alterar a nossa rotina diária, mas não será o suficiente se não for um compromisso genuíno da sociedade. São necessárias políticas públicas mais agressivas, punições exemplares e compromissos reais.

A proposta de criar o Instituto de Pesquisa do Cerrado e a união de ativistas, do terceiro setor e de cientistas, como apresentamos recentemente na matéria Salvem o Cerrado, publicada na editoria Brasil, pode ser uma ideia bem interessante para proteger nosso bioma. O agro não pode ser inimigo, e há formas sustentáveis de prosperar, com tecnologia e ciência aplicada ao campo. Temos tratado isso no CB.Agro, trazendo temas e soluções pertinentes.

Bombeiros, brigadistas e policiais não serão em número suficiente para fazer sozinhos o que é dever de uma sociedade inteira, que deve ser levada a novos caminhos por quem está no poder. Solitariamente, podemos pouco. Solidariamente, faremos muito.

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postado em 15/09/2024 06:00
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