Ensino superior

A pesquisa científica na UnB: desafios e perspectivas para a pós-graduação

O financiamento das universidades e instituições de ensino superior públicas tem sido reduzido nos últimos anos, afetando diretamente programas de pós-graduação, pois grande parte deles depende de bolsas de estudos e de fomento para pesquisa

 23/08/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Segundo turno da consulta para Reitotia da UNB. Entrevista com a candidata Rozana Reigota Naves. Fotos no ICC SUL. UNB. Minhocão. -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
23/08/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Segundo turno da consulta para Reitotia da UNB. Entrevista com a candidata Rozana Reigota Naves. Fotos no ICC SUL. UNB. Minhocão. - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

A Universidade de Brasília (UnB) atravessa um momento de transformação. O primeiro semestre se encerra em breve e, com ele, se abre a perspectiva de uma nova gestão, que deve assumir em novembro, após o Conselho Universitário referendar democraticamente o resultado da Consulta e da nomeação da Presidência da República.

Não são poucos os desafios que a reitora escolhida na consulta à comunidade, Rozana Naves, e seu vice-reitor, Márcio Muniz, têm pela frente. Considerando o papel fundamental da pesquisa na Universidade, é importante destacar alguns problemas desta área.

É preciso ter clareza de que os desafios para a pós-graduação no Brasil são diversos e refletem tanto questões estruturais do sistema educacional quanto fatores externos, como condições políticas, econômicas e sociais. A redução do financiamento público é, sem dúvida, o maior desses fatores. O financiamento das universidades e instituições de ensino superior públicas tem sido reduzido nos últimos anos, afetando diretamente programas de pós-graduação, pois grande parte deles depende de bolsas de estudos e de fomento para pesquisa. 

Além disso, a compra de insumos e a manutenção de laboratórios é igualmente afetada. A diminuição do orçamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) prejudica, de maneira indiscutível, a continuidade e a qualidade dos programas de pós-graduação.

Na UnB, em particular, o financiamento insuficiente tem um efeito devastador: sem bolsas de estudo e com infraestrutura insatisfatória, a evasão na pós-graduação tem sido notada. Isso também dificulta a qualificação de Programas nota 3 ou 4, que equivalem a aproximadamente 42%dos PPGs da instituição. Cerca de 41% dos programas possuem nota 5, e apenas 17% têm notas 6 ou 7, considerado o patamar de excelência nacional ou internacional.

No que tange a quesitos que avaliam a excelência dos PPGs, cumpre que a nova administração considere a indução e facilitação de processos para a internacionalização dos programas, para que estes participem de redes internacionais de pesquisa. A falta de parcerias internacionais robustas, dificuldades na mobilidade de estudantes e professores, e o baixo índice de publicações em revistas científicas internacionais são desafios para a projeção da ciência produzida em nossa Universidade.

Todas as metas para a qualificação dos Programas da UnB se beneficiarão enormemente da diminuição da burocracia excessiva, pois os processos administrativos demasiadamente complexos e exigentes, em diferentes sistemas, atrasam a pesquisa e desestimulam pesquisadores, o que se reflete no baixo número de docentes inseridos em programas de pós-graduação.

Para que o trabalho desenvolvido no interior dos programas seja devidamente reconhecido, é preciso fortalecer as secretarias dos Programas com apoio institucional para o preenchimento da Plataforma Sucupira e para a autoavaliação, atualmente uma das etapas decisivas para a avaliação da Capes.

No que diz respeito à diversidade e à redução das desigualdades, muito foi feito. Como se sabe, a UnB foi pioneira na adoção de cotas raciais em 2004, e recentemente estendeu essa política para a pós-graduação, criando a política de ação afirmativa para negros, indígenas e quilombolas. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir não só a diversidade e a inclusão, mas a melhoria das condições de acesso e de permanência nos programas de pós-graduação, especialmente em relação a grupos historicamente marginalizados, como mulheres, negros, população LGBTQIAPN , indígenas e pessoas com deficiência.

Por fim, é necessário desenvolver instrumentos que apoiem a comunidade acadêmica, profundamente afetada em sua saúde mental no período pós-pandemia. Os estudantes de pós-graduação, em particular, têm enfrentado elevados níveis de estresse, depressão e ansiedade, decorrentes da pressão por resultados e da incerteza quanto ao futuro. Esses desafios configuram um mosaico de grande complexidade, que abrange problemas estruturais, financeiros e locais. Para avançar na qualificação e na formação de mestres e doutorados, cabe promover a valorização do conhecimento científico e da carreira acadêmica— elementos cruciais para o futuro da universidade pública.

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postado em 13/09/2024 06:00
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