Esporte

Artigo: A ditadura dos pontas

Adepta do 4-4-2 e das duplas de ataque, Argentina empilha títulos e é a exceção entre as seleções campeãs mundiais viciadas em usar um extremo de cada lado e um centroavante

Argentina tem uma Copa do Mundo, duas Copas Américas e uma Finalíssima sob o comando de Lionel Scaloni, e lidera as Eliminatórias do continente para a Copa de 2026 -  (crédito: Franck Fife/AFP)
Argentina tem uma Copa do Mundo, duas Copas Américas e uma Finalíssima sob o comando de Lionel Scaloni, e lidera as Eliminatórias do continente para a Copa de 2026 - (crédito: Franck Fife/AFP)

A Argentina é a atual campeã mundial, bi da Copa América, lidera com sobra as Eliminatórias do nosso continente e defenderá o título em 2026. Alguma dúvida? Seis seleções se classificam e a sétima das 10 disputará repescagem!

Um dos segredos do sucesso do técnico Lionel Scaloni é a coragem para contrariar a moda. Das oito seleções campeãs mundiais, seis são reféns convictas dos pontas nos formatos 4-3-3 ou 4-2-3-1, uma é aberta a possibilidades e a Argentina só renuncia ao 4-4-2 em jogos pontuais ou em testes como a vitória de quinta contra o Chile no 3-5-2.

Em vez de trios, a Argentina usa duplas de ataque. Elas estão na memória. Messi e Julian Álvarez. Messi e Lautaro Martínez. Quando o jogador eleito oito vezes melhor do mundo não é convocado ou fica no banco, o par é Lautaro Martínez e Julián Álvarez.

Atrás deles, um senhor meio de campo: De Paul, Paredes, Enzo Fernández e Mac Allister; e uma defesa liderada pelo goleiro Dibu Martínez vazada apenas cinco vezes depois da final contra a França na Copa. Daquele 18 de dezembro de 2022 para cá, somente Uruguai (2) e Equador (1) fizeram gol na Argentina em jogos oficiais. Nos amistosos, a Guatemala (1) e a Costa Rica (1).

A Argentina não é brilhante, porém Scaloni encontrou o ponto de equilíbrio. Há quem odeie essa palavra, mas veja como a harmonia entre os setores é importante. Atual campeã da Euro, a Espanha encanta com Yamal, Morata e Williams, porém sofreu 15 gols depois da Copa de 2022. A França também. O Brasil? 25 antes de enfrentar o Equador.

Todas usam pontas e têm dificuldade para convencê-los a marcar. Quando não há doação, o caos se instaura. A França tem defesa sólida, mas basta um adversário espelhá-la para desestabilizá-la. A Argentina surpreendeu na final da Copa ao usar Messi e Di María abertos Álvarez centroavante no 4-3-3. O trio Mbappé, Giroud e Dembélé foi desfeito na partida e Deschamps reagiu no 4-2-4.

A Alemanha usou Musiala, Havertz e Wirtz na Eurocopa. A Inglaterra abria Saka e Bellingham nos lados para apoiar Kane. O Uruguai tem Pellistri espetado na direita e Maxi Araújo na esquerda para servir Darwin Núñez. O Brasil tem usado dois pontas e um verdadeiro ou falso nove com Tite, Ramon Menezes, Fernando Diniz e Dorival Júnior. Contraditório. O Real Madrid ganhou a Champions League no 4-4-2 com dupla de ataque brasileira: Vini e Rodrygo.

Como toda regra tem exceção, a Itália é desapegada. Usa trios de ataque como Chiesa, Scamacca e Pellegrini, porém se traveste de 3-5-1-1. Assim Luciano Spalletti virou o duelo de ontem contra a França pela Nations League.

Não é pecado usar pontas. Virar refém deles, sim. A fase da Argentina adverte: é possível vencer, agradar e conquistar títulos no 4-4-2 em nome do equilíbrio. E quando necessário, reinventar-se, surpreender em jogos pontuais como na final da Copa de 2022. 

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postado em 07/09/2024 06:00
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