Opinião

Sem medo de celebrar o PIB

Não apenas o estímulo ao consumo provocou a alta do PIB. A taxa de investimento em 16,8% e a elevação da FBCF em 2,1% indicam que a oferta de produtos tende a aumentar, minimizando a pressão inflacionária

icone capa pib -  (crédito: kleber sales)
icone capa pib - (crédito: kleber sales)

Os dados de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, de 1,4% em relação ao trimestre anterior e 2,5% em 12 meses, trouxeram uma onda de otimismo aos agentes econômicos, ao governo e é uma boa notícia para o cidadão. O Brasil foi o segundo país com maior crescimento no trimestre terminado em julho, junto com Arábia Saudita e Noruega; abaixo do Peru e acima dos Estados Unidos e grandes países da Europa.

O PIB é a soma dos valores produzidos, por um período, nos vários setores da economia, incluindo bens e serviços. Ele serve como um termômetro para medir a saúde econômica do país. Quando o PIB vai bem, isso reflete na população, porque significa que a "economia real" está funcionando: empresas produzem, lucram, consequentemente geram emprego e renda — dinheiro que vai, novamente, ser despejado na economia, criando um círculo virtuoso.

Há, no entanto, a preocupação com o chamado produto potencial, ou seja, esse crescimento precisa ser provocado não apenas pelo lado da demanda, com o estímulo ao consumo, como o governo tem feito com políticas como a valorização do salário mínimo, incentivo ao crédito e renda mínima (Bolsa Família). É necessário que o setor produtivo responda aos incentivos, ampliando sua produção, comprando máquinas e equipamentos, aumentando a oferta. Caso contrário, todo esse otimismo vai embora, corroído pela inflação.

Analistas de mercado já apostam que, por causa dessa preocupação com a pressão inflacionária, o Banco Central (BC) vai aumentar a taxa básica de juros em sua próxima reunião, neste mês. A principal missão do Banco Central é essa, de manter a inflação sob controle, perseguindo a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Por isso, a aposta seria de elevação dos atuais 10,5% para até 11,75% ao ano até dezembro. Essa não é uma unanimidade no mercado financeiro. Há quem tenha uma posição mais cautelosa em relação à avaliação que o Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por calibrar a taxa Selic, fará sobre a qualidade do crescimento econômico.  É o caso do presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney.

"Esse ambiente de crescimento econômico robusto, naturalmente, exerce certa pressão inflacionária. Porém, o BC, ao fazer a sua avaliação técnica, não observa apenas os dados correntes da inflação, mas também o horizonte relevante para a política monetária. Portanto, o Copom saberá melhor fazer sua análise, pois o olhar do BC não é imediatista e, sim, mais amplo e de toda a dinâmica da inflação no tempo", disse Sidney, ontem, a esta jornalista.

Ex-funcionário do BCl  Sidney chegou a integrar o Copom, quando foi diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania na gestão de Ilan Goldfajn. Ele conhece bem a engrenagem do Copom. Sabe, inclusive, que desde a edição da Lei 179, a missão do BC não está relacionada apenas à política monetária, mas também ao crescimento econômico e geração de emprego.

Os dados divulgados na terça-feira pelo IBGE mostram que não apenas o estímulo ao consumo provocou a alta do PIB. A taxa de investimento em 16,8% e a elevação da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) — compra de máquinas e equipamentos  — em 2,1% indicam que a oferta de produtos tende a aumentar, minimizando a pressão inflacionária.

 

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postado em 05/09/2024 06:00
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