ARTIGO

Na hora do voto, vá de bicicleta

O cidadão brasileiro já enxergou que a bicicleta é uma solução de mobilidade sustentável. Que os governantes o ouçam

» Laura Magalhães*

 

O desenvolvimento da bicicleta como meio de transporte remonta ao fim do século 19, e foi a invenção que revolucionou o modo como a sociedade se locomovia. Baixo custo de aquisição, praticidade e conforto eram seus principais atrativos. As classes com menor poder aquisitivo foram as mais beneficiadas. Hoje, ela se tornou sinônimo de sustentabilidade.

É inegável que a bicicleta representa um meio de transporte essencial para promover a mobilidade sustentável e segura nas nossas cidades. Combina as vantagens de um veículo privado, como velocidade, liberdade e versatilidade, com as vantagens sociais, econômicas e ambientais do transporte público. É adequado para praticamente todas as idades, tem um custo muito acessível e não consome combustíveis fósseis, nem polui ou faz barulho. 

Além disso, o ciclismo melhora a saúde das pessoas que o utilizam. Os benefícios são inúmeros, como aumento da força muscular, melhora da qualidade do sono e do condicionamento e redução do colesterol e triglicérides, além de elevação do bem-estar e de ganhos para a saúde mental.

A bicicleta como meio de transporte inclusivo e acessível requer uma abordagem abrangente que considere as necessidades e capacidades de todas as pessoas. Ao implementar essas estratégias, podemos tornar a bicicleta uma opção viável para a sociedade, contribuindo assim para uma mobilidade urbana mais equitativa, saudável e sustentável.

Em todo o mundo, nos últimos anos, muitas administrações municipais desenvolveram os seus planos estratégicos para o ciclismo, com a criação e melhoria de regulamentos e a implementação de sistemas públicos de bicicletas em muitas cidades. 

Na Europa, algumas delas estabeleceram padrões para tornar viável o uso cotidiano de bicicletas por meio de políticas de transporte e utilização do solo, tornando o trajeto mais amigável para a prática de ciclismo, bem como de financiamento significativo para a criação de infraestrutura e promoção da educação pública sobre o uso e a convivência com bicicletas.

Na Espanha, por exemplo, em 2005 foi aprovado o Plano Estratégico de Infraestruturas e Transportes (PEIT), que contém, pela primeira vez, uma secção específica sobre a promoção dos meios não motorizados e a Estratégia de Promoção da Bicicleta. O documento prevê, especialmente, a melhoria da segurança rodoviária para ciclistas e a garantia da intermodalidade bicicleta-transporte público, além da criação de uma rede básica de ciclovias e financiamento às administrações locais, e a necessidade de alterações legislativas e de campanhas promocionais e de sensibilização do Estado.

No Brasil, diversas cidades já implementaram medidas para incentivar o uso de bicicletas como parte de suas políticas públicas de mobilidade sustentável. Essas medidas variam desde a construção de infraestrutura específica, como ciclovias e bicicletários, até programas de compartilhamento de bicicletas. Alguns exemplos de cidades brasileiras que se destacam nessas iniciativas são Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Recife.

Mas é preciso ir além. A opção pela bicicleta atende à necessidade de se repensar a forma de se consumir em prol das questões ambientais, especialmente no combate às alterações climáticas e em favor do bem-estar de todos. 

No entanto, uma parte da sociedade ainda é muito dependente do automóvel e, nesse sentido, a nossa sensibilidade coletiva sobre a necessidade de partilhar espaços mais sustentáveis, especialmente urbanos, ainda avança lentamente. É fundamental criar espaços de formação, sensibilização e debate sobre a cidade que queremos ser e ter para o futuro. 

Já temos consciência do excesso de poluição e do trânsito e dos seus efeitos nocivos para a nossa saúde e para o planeta. Agora é o momento de conscientizar cada vez mais pessoas sobre como as cidades deveriam ser e como nos movimentamos nelas. No Brasil são 40 milhões de bicicletas circulando, ocupando a quinta posição mundial, segundo o portal Bicycle Guider.

O cidadão brasileiro, portanto, já enxergou que a bicicleta é uma solução de mobilidade sustentável. Que os governantes o ouçam.

 

*Docente universitária, pesquisadora e consultora internacional em sustentabilidade. Pós-doutoranda em Migrações, Direitos Humanos e Gestão sustentável do Território (Universidade de Granada, Espanha) e doutora em Direito (Universidade Federal Fluminense) 

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