A partir de 2042, a população brasileira vai começar a diminuir, segundo uma projeção do IBGE feita a partir de dados do último Censo. Não precisamos esperar quase duas décadas para entender o que isso significa. Entre muitas outras consequências, com menos crianças nascendo e o aumento na expectativa de vida — apesar da pandemia —, seremos um país mais velho.
Isso poderia nos levar a pensar que também seremos uma sociedade mais madura, com mais experiências vividas e com um histórico de erros que nos leva a acertar mais. Mas não é assim que a banda toca. Estamos nos preparando para esse momento? Não necessariamente. Nem entro do mérito da esfera pública, governamental, institucional, já que muitas vezes essa discussão parece limitada a postergar aposentadorias, afinal não vai ter gente suficiente para pagar essa conta.
Falo da dimensão humana. A forma como convivemos hoje com os idosos é desrespeitosa. E não apenas numa fila de caixa ou numa vaga ocupada indevidamente em estacionamentos.
Escuta atenta, respeito pela autonomia e pelas decisões, emprego, lugares dignos para acolhimento que não custem fortunas, direito à saúde mental na velhice são apenas algumas das necessidades negadas diariamente. E nem cito aqui os absurdos índices de violência doméstica e a vulnerabilidade a golpes diversos — uma conta que ninguém paga e que ninguém discute seriamente.
Pessoas com 60 anos ou mais vão compor mais de um terço da população (37,8%) até 2070 — em 2018, essa faixa etária não chegava a 10% do total. Em 2070, a expectativa de vida vai ser de 83,9 anos, enquanto a idade média da população passará a ser de 48,4 anos. Parece longe, mas não é. É preciso tempo para se adaptar às mudanças — e elas devem começar hoje.
Brasília merece destaque nesse cenário. Enquanto a expectativa de vida dos brasileiros está em 76,6 anos, o DF aparece com 79,7 anos, a maior entre as unidades da Federação. Pode parecer uma vantagem, mas até que ponto estamos comprometidos a conviver bem com os mais velhos? Isso vai além do respeito. É preciso entender o quanto é especial o aprendizado intergeracional.
Quem tem irmãos mais velhos, com uma década na frente, como eu, vai saber a bênção que é ter a oportunidade de crescer sob o olhar deles, uma lente para a realidade que traz mais sabedoria, mais insights importantes sobre a passagem do tempo, a existência, as amizades, a espiritualidade, a tolerância.
Será preciso uma revolução cultural e educacional no Brasil para chegarmos a algo minimamente razoável no tratamento das pessoas mais velhas. Aqui o velho ainda é motivo de piada, pancada ou peninha. O velho é sempre o outro. Temos imensa dificuldade em nos enxergar lá na frente e uma facilidade constrangedora de viajar em direção ao passado apenas lembrando do que foi bom na juventude.
Nossas referências precisam mudar. Nosso comportamento, idem. Te pergunto: você tem amigos velhos? Você os convida para um café, um boteco, uma roda de samba? Vocês conversam sobre a vida, trocam referências sobre filmes e livros?
Estamos perdendo muito e perderemos ainda mais se não olharmos e incluirmos essa parcela da população, a qual me incluo, no grupo de amigos, nas rodas de debate, nas redes sociais e onde mais a vida pulsa no presente. Ou no futuro você deseja ser um velho sozinho e escanteado, aguardando as visitas da família para o bolo da tarde?