SOCIEDADE

Análise: o que falha na aviação civil brasileira?

A segurança da aviação não é um luxo, mas um direito de todos nós. Não dá para termos aviões com problemas em operação, como relataram diversos passageiros nos últimos dias

Hoje completa uma semana que o país assistia, estarrecido, às impressionantes imagens da queda do turboélice da Voepass em um condomínio em Vinhedo (SP). Ainda não se sabe o que causou o acidente e o correto é aguardar o parecer dos órgãos de controle, mas o giro da aeronave em espiral sugere a ocorrência de estol — perda da sustentação que não permite mais o voo. E, simultaneamente ao luto coletivo, uma nova tragédia aérea: um bimotor caiu ontem no interior do Mato Grosso. Cinco pessoas morreram na hora.

Em meio à comoção entre os dois casos, é fundamental deixar claro que são situações distintas. Um envolve a aviação comercial, que movimenta milhares de passageiros diariamente país afora, e o outro, a geral, que ocorre em menor escala. Mas ambos nos colocam diante de um cenário preocupante e que exige respostas contundentes das autoridades competentes.

A aviação civil, por exemplo, é um setor estratégico para o desenvolvimento do país. Tem papel fundamental no fechamento de negócios, no incremento do turismo. A segurança dos passageiros deve ser uma prioridade absoluta.

Muitos pontos serão detalhados pelos técnicos que investigam o acidente da Voepass e, com certeza, teremos o somatório de várias falhas, não somente a apressada conclusão de que a formação de gelo derrubou o avião — se fosse assim, não teríamos voos em regiões remotas e sujeitas a extremos climáticos, como a Sibéria, a Antártida e o Alasca. Todo acidente é uma sucessão de eventos e não uma causa única, que podem ir de problemas diversos, desde a falha no aparelho, a fatores psicológicos.

A recorrência de acidentes aéreos no Brasil, no entanto, é um sinal claro de que algo está errado. Em 2023, tivemos a maior quantidade de casos em meia década. Foram 155 registros de janeiro a dezembro do ano passado, uma média de quase uma ocorrência a cada dois dias. A maior parte ocorreu no Centro-Oeste (28%), seguido por Sudeste (24%), Sul (21%), Norte (17%) e Nordeste (10%). As principais causas foram perda de controle em voo; colisão com obstáculos durante a decolagem ou pouso; e falhas no motor.

A cada tragédia, a sociedade se mobiliza para exigir melhorias, mas, com o passar do tempo, o assunto tende a ser esquecido. A segurança da aviação não é um luxo, mas um direito de todos nós. Não dá para termos aviões com problemas em operação, como relataram diversos passageiros nos últimos dias. Empresas, pilotos, técnicos e órgãos reguladores precisam atuar de forma proativa para identificar e corrigir as falhas existentes. É o que todos nós desejamos e vamos cobrar. 

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