Cultura

Tempo de Gil

Gilberto Gil anuncia que vai parar de fazer show após a turnê Tempo Rei, em que fará, de forma cronológica, uma espécie de balanço da extensa carreira. Ainda bem que continuará ligado ao ofício que exerce com brilhantismo

Primeiro, foi Milton Nascimento que decidiu parar de fazer show, após excursionar por Brasil, Europa e Estados Unidos com o espetáculo A última sessão de música. Agora, é Gilberto Gil, outro nome exponencial da geração de ouro da música popular brasileira, que toma a mesma atitude. Ainda bem que ambos continuarão ligados ao ofício que exercem com brilhantismo, compondo, gravando e levando seus trabalhos às pessoas que tanto os admiram.

Durante entrevista na semana passada, Gil anunciou a despedida dos palcos no próximo ano com a turnê do show Tempo rei, que percorrerá oito estados e o Distrito Federal entre 29 de março e 22 de novembro de 2025. A estreia ocorrerá em 29 de março, no Rio de Janeiro. Não custa lembrar que foi para aquela cidade que, em 1968, ele compôs Aquele abraço, um pouco antes de partir, ao lado de Caetano Veloso, para o exílio em Londres, imposto pela ditadura militar.

No show, que chegará a Brasília em 7 de junho, o cantor e compositor terá a companhia de uma trupe de 10 instrumentistas e três vocalistas. Entre eles, os filhos Bem Gil (guitarra e direção musical) e José Gil (baixo), a filha Nara Gil e a neta Flor Gil nos vocais — ou seja, uma autêntica big band.

Sobre a excursão, Gil pondera: "Foi o próprio tempo que determinou. Ao chegar à decisão de realizar essa turnê, houve reflexão sobre a exigência física necessária para esses grandes shows". Com Tempo rei, ele fará, de forma cronológica, uma espécie de balanço da extensa carreira.

Oficialmente, o início foi no Teatro Vila Velha, em Salvador, com o seminal histórico espetáculo Nós por exemplo, em que dividiu a cena com Caetano Veloso, Tom Zé, Maria Bethânia, Gal Costa, o percussionista Djalma Corrêa e o violonista e arranjador barreirense Alcivando Luz — que recebeu homenagem póstuma, na semana passada, em sua cidade natal.

Luiz Gonzaga, mestre do acordeon, conhecido como rei do baião, e João Gilberto, criador da Bossa Nova, além do conterrâneo Dorival Caymmi foram as principais referências do então futuro cantor e compositor ao decidir tomar a música como ofício. Além de sofisticado melodista, ele é dono de vasta e profícua obra literária, voltada basicamente para a música. 

Por sua relevância cultural, o artista e intelectual soteropolitano é detentor de incontáveis prêmios e condecorações — entre os quais, o de Doutor Honoris Causa pela Berklee College of Music de Boston, nos Estados Unidos, e pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Entre 2003 e 2008, Gilberto Gil ocupou o cargo de ministro da Cultura em mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e buscou implantar políticas públicas para a promoção da diversidade artística, cultural e étnica. À época, fixou residência em Brasília. Aqui, lançou o livro Gilberto Gil — Todas as letras, organizado por Carlos Rennó e lançado pela editora Companhia das Letras, em concorrida noite de autógrafos.

Em 22 de abril de 2022, Gilberto Gil tomou posse na Academia Brasileira de Letras e recebeu o colar de imortal da atriz Fernanda Montenegro. Ele veio a se tornar o primeiro representante da música popular na tradicional instituição.

 

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