WARLEY M. NASCIMENTO — Presidente da Associação Brasileira de Horticultura (ABH) e chefe-geral da Embrapa Hortaliças
O aumento da automação e da mecanização agrícola e o acesso a novas tecnologias estão modificando o perfil do setor rural brasileiro. Algumas dessas transformações tecnológicas já fazem parte da olericultura (setor de produção de hortaliças), por meio de insumos e tecnologias que estão potencializando os resultados desde produtores familiares até os de grande escala empresarial.
A automação pode tornar o processo de produção no campo (ou na estufa) mais eficiente e faz parte de uma das vertentes da agricultura digital, ou agricultura 4.0, com a integração de tecnologias mais avançadas, como a internet das coisas (IoT) e a análise de dados, tornando mais eficiente a gestão e as diversas operações agrícolas.
Tecnologias para automação de processos vêm continuamente impactando o cenário geral de produção agrícola, por meio do aumento específico de produtividade. A produção em sistemas de cultivo protegido sob estufas, por exemplo, tem movimento crescente no mundo. E um dos seus benefícios está associado fortemente à adoção da automação, pois ela garante e intensifica a produção de hortaliças durante todo o ano, com condições climáticas adversas e economia de área e dos recursos naturais. Nesse sentido, há estufas modernas com aquecimento, ventilação, triagem, iluminação, nebulização, suprimento de CO2, suprimento de água e nutrientes, entre outros, possibilitando, assim, um microambiente favorável ao crescimento das plantas e à melhoria da qualidade dos produtos colhidos.
Estratégias de uso eficiente de insumos, que sejam de menor impacto ao meio ambiente, na utilização de materiais ecologicamente corretos são os atuais objetivos da produção de hortaliças, os quais podem ser alcançados com modelagem, sensoriamento remoto, robótica e estatística avançada, visando estabelecer uma horticultura mais eficiente e inteligente. Embora essa inteligência artificial tenha atingido vários avanços em áreas diversas, como a industrial, e o uso da automação fornecendo soluções para o setor agrícola, ainda não foi expandida fortemente ao cultivo de hortaliças no Brasil.
Trabalhos recentes envolvendo o estudo de imagens obtidas por drones estão sendo utilizados, por exemplo, na fenotipagem e na identificação de plantas superiores em programas de melhoramento genético. Sistemas computacionais podem também ser explorados nos processamentos pós-colheita de algumas hortaliças. Com a utilização de drones no campo, torna-se possível cobrir áreas, em menor tempo, com um custo menor e uma maior precisão na realização das diferentes tarefas, como mapeamento, pulverização etc. Assim, com o uso dessa tecnologia, o produtor consegue uma maior eficiência em diferentes processos.
O tema aqui abordado é de suma importância nos dias de hoje, nas diferentes áreas do conhecimento, e a olericultura não poderia ficar de fora. Tanto é verdade que o 57° Congresso Brasileiro de Olericultura (https://www.57cbo.com.br), evento promovido pela Associação Brasileira de Horticultura (ABH) que está ocorrendo, nesta semana, em Campinas (SP), tem como central Olericultura 4.0: desafios e oportunidades. Com isso, pretende-se apresentar ao público novos conhecimentos técnico-científicos, práticas, processos e transferência de tecnologia 4.0 ligados aos sistemas de produção e comercialização de hortaliças. Por meio de trocas de experiências, espera-se ampliar o entendimento sobre o uso das tecnologias digitais existentes para a cadeia produtiva de hortaliças e estimular a busca por novas estratégias para aumentar a produção sustentável dessas espécies.
Ainda dentro desse tópico, o governo brasileiro apresentou, recentemente, uma proposta no valor de R$ 23 bilhões para os próximos quatro anos, em um plano de investimento em inteligência artificial (IA) com o objetivo de desenvolver tecnologias sustentáveis e voltadas para a sociedade. O plano de investimento proposto prevê recursos para "iniciativas de impacto imediato" em diversos setores, como saúde pública, agricultura, meio ambiente, negócios e educação. Uma grande oportunidade para investimentos em infraestrutura, capacitação, geração de empregos e desenvolvimento.
Nos dias de hoje, a tecnologia digital não pode ficar fora de campo! Ela tem, sim, que estar associada diretamente ao processo de produção de hortaliças, seja na agricultura familiar ou na empresarial, visando o fortalecimento da governança ambiental, social e corporativa (ESG), e, claro, contribuindo com o produtor e a cadeia produtiva. Quem ganha com isso é a sociedade brasileira, por meio dos benefícios econômicos gerados por essas tecnologias e pelo consumo de produtos hortícolas mais saudáveis, nutritivos e com menor custo.