A vitória vai além das medalhas está na conquista de cada um com sua história de vida e superação, exatamente como muitos no duro cotidiano de luta no Brasil real.
Admito que sempre fui um desastre para esportes, qualquer um. Simplesmente nasci sem esse talento. Quando criança e jovem, era péssima até em queimada e bete. Nada escapava, olha que meus pais tentaram: natação, tênis, basquete, vôlei, handebol, enfim. Certa vez, uma amiga, que era sempre a capitã dos times, tamanha sua habilidade esportiva, disse: "Sua verdadeira vocação é ser torcida". Obrigada, foi um alento.
Nem por isso deixei de admirar e acompanhar as competições esportivas e, claro, torcer muito, afinal, não se abandona a vocação jamais. Agora nas Olimpíadas, mais do que nunca, fico admirada com a história dos atletas, superações de todas as ordens: política, econômico-financeira, gênero, aparência e emocional, entre outros.
É a Valdileia Martins, que lutou junto com a família para ter uma terra só sua no MST e que treinava com vara de pescar. O Caio Bonfim, daqui de Brasília, que escolheu um esporte pouco convencional, humilhado por "rebolar" e ser "só atleta". A Beatriz Souza, nossa medalhista de ouro, com seus 135kg e 1,76m, que sofreu bullying por causa do peso. Rafaela Silva, também do judô, que numa passagem pelo Rio foi ironizada por um policial, que "achou que ela vinha da favela" e, ela expôs o ultrage nas redes sociais.
Como esses tantos outros, trazendo essas trajetórias para a vida cotidiana, olho para o lado e fico imaginando o que algumas pessoas, com as quais convivo, não viveram? Um amigo, de família de plantadores de arroz no Acre, que veio para Brasília e tem mil títulos acadêmicos. Outro que entrou para o curso de medicina aos 42 e teve de ouvir de um professor, o que ele estava fazendo ali. A diferença é de que as Olimpíadas são a cada quatro anos e, a vida, bem essa é contínua e há, quem diga, que não se acaba, apenas se a transforma.
Seria bem interessante que, ao invés, de julgar e até condenar, sem ter direito a tribunal, defesa nem juiz tocado, as pessoas passassem a tentar compreender as histórias, daí as ações e reações das outras nas situações mais comuns do dia a dia. Sim, todos nós temos os impactos do que vivemos e passamos ao longo da nossa história.
Particularmente, tento fazer isso. Admito, não é fácil ser compreensível. Mas é bastante interessante, como exercício de cidadania, observar como muitas pessoas dão a volta por cima dos ataques que sofrem — e sofreram – com atitudes incríveis. As medalhas das Olimpíadas de Paris, a presença de 153 mulheres numa delegação de 276 atletas e o fato de 90% dos desportistas receberem Bolsa-Atleta, uma forte participação de negros e outros integrantes de grupos excluídos mostram o Brasil real e a necessidade de olhar para dentro.
Da minha modestíssima posição de indivíduo, farei minha parte, mas não sem antes aplaudir e me giraldirenata@gmail.com emocionar com cada grande vitória. Não preciso de medalhas, o fato de muitos sobreviverem às adversidades da própria existência considero o suficiente para a obtenção do título de campeão, campeã ou "campex", usando a linguagem neutra.