O corpo de uma menina de 9 anos foi encontrado em um contêiner de lixo, no início deste mês, na região metropolitana de Porto Alegre. A causa da morte e as circunstâncias não podem ser divulgadas pela polícia, porque a Justiça local decretou sigilo do caso. Mas foi o fim aterrador de uma vida de sofrimento.
O que se sabe é que a criança era constantemente agredida pela mãe, física e psicologicamente. Em uma dessas ocasiões, ela teve de ser levada ao hospital, por causa de um ferimento na cabeça. Também, por vezes, não dormia em casa e, sim, em um carro abandonado, e se alimentava de restos descartados no lixo. Segundo relatos, a menina costumava pedir comida aos vizinhos, além de abraços e beijos — veja a que ponto chegava a carência afetiva.
A mãe da garotinha está presa preventivamente. Para a polícia, ela teve responsabilidade na morte, seja por ação, seja por omissão. Aos investigadores, disse ter dado um sedativo, sem prescrição médica, para a filha horas antes de o corpo ser encontrado. Ela não mostrou nenhum tipo de emoção ao saber da notícia.
Vizinhos contaram que reiteradamente acionaram o Conselho Tutelar para denunciar que a menina sofria maus-tratos. Por que, então, essa garotinha não foi salva? O pai, que mora em Santa Catarina, disse que soube por vizinhos que a filha dormia na rua e se alimentava de comida do lixo. Também relatou que chegou a propor à suspeita ficar com a criança, já que ela não tinha "paciência", mas a mulher recusou. Se ele sabia dos abusos, por que não pediu a guarda na Justiça? Ou pediu e não foi atendido?
Família, cidadãos, órgãos de proteção, Justiça e Estado têm o dever — determinado pela Constituição — de zelar pelo bem-estar de crianças e adolescentes. Quando um desses elos se omite, quem paga caro, e, por vezes, com a própria vida, são justamente meninos e meninas. Alguém falhou com essa garotinha, possivelmente, mais de uma pessoa. A investigação deve apontar isso. Mas será tarde demais para quem dependia desse socorro.
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