João Jorge Santos Rodrigues*
A Fundação Cultural Palmares completa, nesta quinta-feira (22/8), 36 anos — mais de três décadas de luta contra os efeitos de séculos de opressão. O povo negro está, portanto, em festa. Festa da democracia, da cultura, do direito de ser. E celebramos a data com uma demonstração inequívoca de força contra a(s) tentativa(s) de apagamento de nossas tradições, saberes, fazeres, gente, história: a inauguração da nova casa da fundação. E o resgate de sua memória.
Como uma fênix, uma das mais importantes organizações de defesa da população e da cultura afro-brasileiras ressurge das cinzas a que foi reduzida no (des)governo passado. É um marco histórico. Marco do governo da União e da reconstrução — e do compromisso com os oprimidos. Com determinação e perseverança, os gestores da Palmares e do Ministério da Cultura do Brasil vêm reerguendo a estrutura, a memória e a imagem da instituição, seriamente atingidas pela administração passada.
Os atos comemorativos dos dias 21, 22 e 23 carregam os traços dessa reconstrução, que respeita o passado e caminha para o futuro, lançando sementes para um porvir ainda mais forte e capilarizado. Duas referências desse duplo esforço: a reabertura da Biblioteca Oliveira Silveira, alvo de tentativa de destruição de centenas de livros (resgate); e a criação do Espaço Erê, para a formação de novas gerações (horizonte).
Mas, para que se compreenda a dimensão política desse resgate, é necessário contar um pouco a história da Fundação Palmares, que foi formalmente instituída pela Lei nº 7.668, de 22 de agosto de 1988. Nasceu, portanto, quando o Brasil completou 100 anos de abolição oficial da escravatura, como resultado da luta do Movimento Negro, e com a missão de defender, preservar e promover a cultura e o povo negros.
E o tem feito. Tijolo por tijolo, gestão a gestão, tem conseguido resistir e cumprir os objetivos aos quais se propôs, apesar do último — grave — revés que sofreu, mas que não conseguiu destruí-la. Honrando o compromisso assumido, o governo Lula faz renascer a esperança, com a reconstituição do que foi destruído e a construção da nova sede, que favorece a continuidade e a ampliação de suas atribuições.
É assim que a Fundação Cultural Palmares completa 36 anos — de casa e cara novas. No slogan da logomarca comemorativa, a síntese dessa (res)significação: Casa da Cultura Afro-brasileira. Nessa nossa nova casa, continuaremos desempenhando papel central na desconstrução do racismo — para o que contamos com o apoio irrestrito da ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes.
Com a garra dos servidores e colaboradores da Palmares — os que tiveram força para permanecer e defender o patrimônio (material e imaterial) da instituição, e os que se juntaram a nós nessa nobre jornada. Na impossibilidade de citá-los, agradeço, simbolicamente, em nome de todos, aos meus colaboradores mais diretos: Nelson Mendes (diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-Brasileira); Flávia Costa (diretora do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro); Guilherme Bruno (coordenador do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra); Angela Inácio (chefe de Gabinete); e Carlos Eduardo Souza (coordenador de Gestão Interna).
Eles representam o esforço de todos nesta gestão, que, em curto espaço de tempo, muito fizeram pela Fundação Cultural Palmares. Alguns poucos exemplos, a título de ilustração: certificamos mais de 104 comunidades quilombolas; estamos lançando novos editais de arte e cultura; estamos em vias de celebrar protocolo de intenções em prol dos afrodescendentes. Enfim, instalada no Setor de Autarquias Sul, a Fundação Cultural Palmares retoma, com força, os deveres inerentes à sua missão de defender, preservar e promover a população e a cultura negras.
O aniversário da Palmares é 22 de agosto, mas as celebrações começam dia 21 e seguem até 23, com muita história, contada por seus ex-presidentes, shows e diálogos para fortalecer a presença negra nos centro de poder. Nesses três dias, iremos mostrar ao Brasil e ao mundo que voltamos. E que nosso compromisso com a promoção da justiça social para a população afro-brasileira está mais forte do que nunca!
Saúde, paz, axé!
*Presidente da Fundação Cultural Palmares
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