A covid-19 provocou um impacto sem precedentes no mundo, com repercussões em vários segmentos e em aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais. A situação de pandemia foi considerada encerrada em maio de 2023, mas seus efeitos permanecem. Na saúde global, amplamente afetada, as lições são profundas — porém algumas delas parecem que não foram totalmente aprendidas.
O coronavírus afetou direta e indiretamente o bem-estar das pessoas. Diversos costumes das populações sofreram adaptações, mudanças ou, até mesmo, foram abandonados. A necessidade de conscientização sobre a saúde individual e coletiva se impôs de forma definitiva. No entanto, algumas convicções e práticas inadequadas causam apreensão.
Apesar da prova que a covid-19 deu ao planeta sobre a importância das vacinas, essa prevenção ainda é negligenciada por grupos diversos. Em 2023, mais de 60% dos municípios brasileiros não atingiram as metas entre 90% e 95% de imunização em relação ao calendário infantil, segundo o Ministério da Saúde.
Já a cobertura mundial de vacinação nessa faixa etária estagnou no ano passado, deixando 2,7 milhões de crianças sem imunização ou com doses insuficientes, em comparação aos níveis pré-pandêmicos em 2019, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Uma vez que as altas coberturas são essenciais para diminuir a circulação de vírus e outros micro-organismos nocivos, essa questão desperta para a importância de um esforço conjunto visando à proteção das populações. Surtos de sarampo e a elevada incidência de doenças que já não preocupavam agora são uma realidade mundial.
Na última quarta-feira, a OMS anunciou que a mpox é, novamente, uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). Segundo a entidade, o aumento expressivo de casos na África oferece um risco potencial de nova pandemia. A globalização sanitária, a exemplo do que aconteceu com o coronavírus, exige ações complexas e com ampla participação dos cidadãos.
A diferença entre países ricos e pobres não pode existir. Ao contrário. A garantia de saúde deve ser a mesma para todas as nações, num entendimento dos governos de que nenhuma fronteira pode barrar a circulação das doenças.
Outros registros significativos, como a crescente incidência de problemas crônicos não transmissíveis, se apresentam. Diabetes, câncer e moléstias cardiovasculares são algumas das enfermidades que têm registrado aumento pelo mundo.
Diante disso, a democratização da saúde, de maneira que permita o alcance a tratamentos e a oportunidade de cuidados, não pode ser apenas um conceito. Remédio, vacina, tecnologia e conhecimento médico precisam ser considerados bens e direitos da humanidade. A desigualdade de acessos potencializa o perigo coletivo de adoecimento e não faz sentido em um mundo que busca a dignidade para todos. Pensar a saúde sem privilégios é o caminho para superar os desafios globais que se impõem nesse campo.
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