O Brasil que viu as atletas conquistarem medalhas e orgulharem a nação nas Olimpíadas 2024 precisa se debruçar ainda mais sobre a questão da violência de gênero. O país que acompanhou Rebeca Andrade e suas colegas da ginástica, Beatriz Souza, Rafaela Silva, Duda, Ana Patrícia, Bia Ferreira, Larissa Pimenta, Tatiana Weston-Webb, Rayssa Leal e as jogadoras do futebol e do vôlei mostrarem força e competência para chegar ao pódio não oferece segurança para que meninas e mulheres vivam sem medo.
O triunfo feminino em Paris comprova o que o cotidiano escancara em território nacional: o talento e a capacidade de superação das brasileiras em todas as atividades, incluindo o esporte de alta performance. Os discursos conscientes das nossas representantes nos Jogos, únicas a garantirem o ouro, precisam ser uma indicação a mais da necessidade premente de eliminar os ataques às mulheres.
Em 2023, o Brasil registrou um crime de estupro a cada seis minutos. Com o total de 83.988 casos e aumento de 6,5% em relação a 2022, um triste recorde foi registrado. As mulheres são a maioria das vítimas e os agressores estão, na maior parte das vezes, dentro de casa. Esse é um recorte aterrorizante que faz parte do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no mês passado. O levantamento aponta também que o número de mulheres que sofreu algum tipo de violência doméstica foi de 258.941 no ano passado, o que representa um aumento de 9,8% em comparação com os 12 meses anteriores.
O retrato do país que persegue o feminino é assustador, a despeito da Lei Maria da Penha, referência mundial no combate à violência doméstica contra meninas e mulheres. Na última quarta-feira, a legislação completou 18 anos, mas ainda com desafios para a sua aplicação. Se a lei é exemplar, é necessário discutir o aprimoramento das políticas públicas para o atendimento dessas vítimas.
Apesar dos avanços, reconhecidos por especialistas, a opressão ao feminino ainda é um dos principais problemas sociais do país. A violência que mira a mulher aumenta e, muitas vezes, choca pelo nível de crueldade. A redução da desigualdade de gênero e a ampliação do debate em torno do tema têm de ser encaradas com determinação, mobilizando toda a sociedade.
Nessa luta, a participação dos homens precisa ser mais efetiva. De muitas maneiras, eles devem repensar suas atuações diante da avalanche de casos de ataques às mulheres. Abuso, importunação sexual, perseguição, assédio e feminicídio — crimes que não dão trégua — precisam ser combatidos por toda população.
Medidas e discussões a partir do masculino podem contribuir de forma significativa para a proteção das mulheres. Acabar com o machismo e a misoginia é uma missão que cabe a todos. No dia a dia, observar atitudes e comentários pode fazer a diferença. Não é possível aceitar que amigos, colegas de trabalho e parentes apresentem sinais de desrespeito às mulheres sem serem repreendidos. Essa é uma postura óbvia, mas normalmente negligenciada. O posicionamento de cada um diante das ocorrências é determinante para que elas recuem.
A mobilização de mulheres e homens é o caminho para extirpar esse mal. E apenas o discurso masculino não basta. A luta contra a violência que aflige as mulheres tem de envolver desde os pequenos, com educação e conscientização, até os idosos. O Brasil precisa começar a se orgulhar também apresentando vitórias que garantam a total segurança às suas cidadãs.
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