VISÃO DO CORREIO

Os obstáculos ao aleitamento materno

Como parte dos objetivos da Agenda 2030 da ONU, a expectativa é alcançar uma taxa de 70% de amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida. Nas Américas, esse índice não chega a 38%

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento materno exclusivo ocorra até o 6º mês de vida da criança -  (crédito: Reprodução/Freepik)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento materno exclusivo ocorra até o 6º mês de vida da criança - (crédito: Reprodução/Freepik)

Agosto chegou e, com ele, a campanha conhecida como Agosto Dourado, uma forma de conscientizar as pessoas sobre a importância do aleitamento materno. A data completa 34 anos e foi um esforço da Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância  (Unicef), para ser implementada. O dourado é justamente para simbolizar o padrão ouro da alimentação infantil — no caso, o leite materno.

Dessa parceria, foi gerado o relatório Declaração de Innocenti, com o objetivo de estimular os países a articularem a promoção da amamentação, além de ter sido fundada a Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação. No Brasil, a Lei n.º 13.435, de 2017, reforça as ações em prol da saúde e do bem-estar do bebê. Segundo o Ministério da Saúde, o leite materno reduz em 13% o risco de morte nos primeiros anos de vida. No caso da mãe, a amamentação ajuda na recuperação pós-parto e reduz o risco de certas doenças como câncer de mama e ovário.

Ainda assim, falar em leite materno no Brasil e no mundo está muito distante do que preconiza a OMS. Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) mostram que, em todo o planeta, apenas 44% das crianças são amamentadas de forma exclusiva nos primeiros seis meses de vida. Nas Américas, esse índice não chega a 38%, e somente 32% das crianças continuam sendo amamentadas até os 2 anos. No que diz respeito aos países da América Latina e do Caribe, na primeira hora de vida dos bebês — primordial para a sua sobrevivência —, menos da metade deles, 48%, é alimentada.

Como parte dos objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas, a expectativa é alcançar uma taxa de 70% de amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida ou, a curto prazo, 50% até 2025. Portanto, aumentar os índices de aleitamento materno no Brasil é mais que urgente.

Aos desafios numéricos, somam-se questões que afetam a sociedade brasileira como um todo. Embora a amamentação seja um gesto valoroso e extremamente benéfico para mãe e filho, as mulheres ainda enfrentam dificuldades que passam pelo próprio ato de amamentar. Dores e lesões por conta da sucção muitas vezes requerem cuidados médicos, que nem sempre são acessíveis. Algumas mães também sofrem com o formato dos mamilos e possíveis infecções.

Também é fato que as mulheres ainda estão sujeitas a pressão social e tabus ligados ao aleitamento materno. Muitas se sentem obrigadas a amamentar seus bebês mesmo com dores severas e nem sempre estando aptas por outras questões de saúde. Assim como são comuns os relatos de constrangimento e até ataques quando se decide amamentar uma criança em público. 

A boa notícia é que o Brasil é reconhecido mundialmente por seu programa de doação de leite humano, investindo, mais especificamente, em bebês prematuros ou de baixo peso (menos de 2,5kg). A cada ano, 330 mil crianças brasileiras nascem prematuras e dependem dos bancos de doação de leite para receber os principais nutrientes. Esses bebês representam aproximadamente 11% do total dos nascimentos no Brasil, que chegam a 3 milhões por ano. 

Há no país um movimento de aumento das doações — de 8% de 2022 para 2023 —, e a meta do governo é elevar em mais 5% de 2023 para 2024. Porém, mesmo com os avanços, os problemas persistem, sinalizando que o poder público não é o único ator capaz de adotar medidas que, de fato, protejam mãe e filhos desde as primeiras horas após o parto.  

 

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postado em 02/08/2024 00:00 / atualizado em 01/08/2024 06:00
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