Fato 1: o judoca brasileiro Rafael Macedo é desclassificado na disputa pela medalha de bronze, por um golpe ilegal no adversário, o francês Maxime-Gael Ngayap Hambou. Rapidamente, o assunto vira o assunto mais comentado na internet no Brasil. "Maior roubo da história", "Que palhaçada é essa" e "A nação brasileira não aguenta mais ser roubada", diziam os internautas. A punição mostrou-se correta, conforme destacaram comentaristas de arbitragem daqui e do exterior. Bastava conhecer a regra.
Fato 2: a italiana Angela Carini abandona a luta contra a argelina Imane Khelif, uma das pugilistas anteriormente reprovadas em testes de gênero e autorizadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) a competir em Paris. Logo, as redes sociais são tomadas de transfobia e uma onda de desinformação. Políticos se aproveitaram para atacar a atleta africana. A verdade é uma só: Imane Khalif é cisgênera, ou seja, nasceu e se identifica com o sexo feminino, inclusive competindo na Olimpíada anterior, em Tóquio.
Os dois casos ocorreram nos últimos dois dias. E reforçam a percepção de que as redes sociais ampliaram um hábito enraizado na natureza humana: o prejulgamento, ou seja, formar uma opinião sobre alguém ou algo antes de ter todas as informações. No fundo, é uma postura nefasta. Afinal, julgar os outros sem conhecer a totalidade da história ou da experiência pode ter consequências sérias. Em muitos casos, não há tempo para arrependimento.
Estamos no meio de uma revolução tecnológica e somos bombardeados de informação o tempo todo. Por isso, antes de emitir qualquer opinião, considero fundamental tentar compreender a perspectiva do outro lado e buscar o máximo de informação possível. Mas o fundamental é refletir a todo instante sobre crenças e valores. Ajuda demais a identificar e desafiar os preconceitos.
Vivemos, ao mesmo tempo, dias especiais. Os Jogos Olímpicos são o momento de celebramos o esporte. A torcida pelos brasileiros deve existir, mas a derrota não é o pior dos mundos. Se o adversário ganhou, na maioria absoluta dos casos, foi por mérito —claro que os erros existem, mas são a exceção, nunca a regra.
O ouro é ótimo. A prata e o bronze, também. Parabéns, Caio Bonfim. Parabéns, Rebeca Andrade. Nossos medalhistas de ontem.
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